Naquela terça-feira de um fevereiro frio, 100 cândidos, 100 oportunistas, 100 narcisistas e, talvez, 10 pessoas decentes sentaram-se nos claustros do Convento do Beato decididos a empreender a grande cruzada da era moderna: salvar a Pátria!
Para o caso, não importa se seriam 310 – os jornais referiam «mais de 300 pessoas» – mas um número preciso facilita o cálculo dos 3% de pessoas que estatisticamente nunca trocarão de credo, nem de caráter, nem de alianças, ainda que mudem as circunstâncias, como mudaram as que levaram Pedro a negar Cristo.
E até dá jeito para o exercício simples que cada um poderá fazer a seu gosto: escreve os 31 nomes mais sonantes do conclave – e não hesitará na identificação de 10 cândidos, 10 oportunistas, 10 narcisistas e, talvez, uma pessoa decente.
Contrariando as promessas, em 2014 Portugal não tinha saído da cauda da Europa. Infelizmente estava ainda mais atrasado e a braços com o desmoronamento do BES e da PT, duas tragédias com a impressão digital da gente do Beato, que tinha jurado que o seu grande desígnio era «a defesa dos interesses de Portugal e das empresas portuguesas».
Azar dos azares, logo a seguir ao termo dos trabalhos, um dos mais ativos organizadores vendeu a Somague a capitais espanhóis. A transferência dos centros de decisão para o estrangeiro apenas começara. E iria acelerar por obra e graça dos ‘comprometidos’.
A verdade estava à vista: a ‘geração de ouro’ que proclamava ‘somos os melhores, dêem-nos os lugares no Governo e nas empresas e nós salvaremos a Pátria’, afinal estava ali para tratar da vidinha. Portugal teria de esperar outros salvadores.
O começo até fora auspicioso. Oportunas encomendas a uma empresa de caça-talentos – milagrosamente caídas da Galp, do BCP, do BES e de boa parte das empresas públicas –permitiram construir um networking de ‘amigados’ ávidos de lugares-chave no Governo, nos negócios e nas televisões. E tinham pressa. Tanta que, com a sua imparável dinâmica, ajudaram a colocar no pipe-line das privatizações as empresas públicas mais valiosas, que acabaram vendidas a estrangeiros. Caía a máscara aos ‘patriotas’!
Com a credibilidade de rastos, certos de que não haveria espaço para um regresso ao palco, os actores principais remeteram-se ao silêncio.
Para trás, ficou o deslumbramento dos tempos em que tudo parecia possível e todos se guiavam pela cartilha aprendida nas escolas de negócios mais reputadas: greed is good! Confrontado com a eventualidade de o Compromisso ser «uma rampa de lançamento para substituir os atuais gestores», um dos líderes negou. Negou três vezes. Mas foi avisando:
«Serão inevitáveis mudanças nas cúpulas empresariais».
Pudera! Que mais poderia levar tanta gente ao Beato?