É natural que esta conjuntura produza consequências noutras áreas, nomeadamente a nível de ratings e do BCE, estando já em marcha uma corrida implícita para determinar qual dos dois irá reagir primeiro.
Perante a continuação de progressos, o cenário lógico para as três maiores agências de notação financeira será de um upgrade inicial em termos de ‘perspetiva’ que mais tarde se deverá materializar numa revisão em alta do rating principal. Será uma barreira particularmente relevante de passar, pois a dívida do estado deixaria de pertencer ao grupo com alto risco de incumprimento para passar a ter uma designação não-especulativa, ou investment grade. Esta transição é paradigmática pois existem vários investidores com restrições ao nível do tipo de dívida que podem incluir nos portfolios, sendo o mínimo de investment grade uma condição habitual. Um upgrade abriria as nossas obrigações a um leque mais abrangente de potenciais recetores, o que tenderia a baixar os custos de financiamento. As datas das próximas atualizações de rating estão previstas para 16 de junho e para 1 e 15 de setembro. A data mais provável para o início deste processo será porventura o anúncio de setembro por parte da Moodys, que no primeiro dia do mês poderá dar o mote inicial por via da revisão de perspetiva. Na melhor das hipóteses isto implicaria um upgrade efetivo no final do ano, se bem que as taxas de mercado irão certamente antecipar esse movimento.
Praticamente ao mesmo tempo que se abre esta oportunidade, temos o nosso maior comprador perto de anunciar a sua retirada. Refiro-me ao BCE, que perante o ciclo de crescimento europeu começará a desenhar a retirada das suas políticas de estímulo – que muito têm contribuído para estabilizar as taxas das obrigações nacionais. O tiro de partida deverá ser dado já na reunião de 8 de junho por via de uma ligeira alteração na linguagem da comunicação oficial. Curiosamente também em setembro, no dia 7, a reunião de Frankfurt poderá representar o passo mais significativo em direção ao término do programa de compras. O calendário deverá ficar determinado e passará por uma gradual redução mensal.
A segunda metade deste ano será assim marcada por estas duas forças opostas no nosso mercado de dívida. Será importante que a revisão do rating ganhe mais esta corrida para as cores nacionais, e certamente veremos as nossas instituições focadas nesse objetivo durante os próximos meses. Dessa forma, o país conseguiria orquestrar mais uma passagem de testemunho de um comprador oficial para compradores de mercado, um pouco à semelhança do proposto nesta coluna no dia 01/04 em relação às amortizações antecipadas ao FMI, que vejo com satisfação que as autoridades têm seguido. O caminho é este – conservar o que tem sido reconquistado e utilizar os bons ventos para construir estabilidade futura.
*Gestor de portfoliomulti-activo no BIG – Bancode Investimento Globalviewh