Quando há pouco mais de um mês a primeira-ministra britânica anunciou, de surpresa, a convocatória de eleições gerais para o próximo dia 8 de junho, as sondagens colocavam o seu Partido Conservador numa posição bem confortável, com mais de vinte pontos percentuais de vantagem sobre o Labour Party. Foi, aliás, com a intenção de surfar essa onda, composta por uma mistura de optimismo torie com pessimismo trabalhista, tendo em conta as intenções de voto até aí conhecidas, que os mais próximos de Theresa May – que recusou, vezes sem conta, a hipótese da realização de um novo ato eleitoral – a terão convencido a avançar para o voto. O objetivo? Reforçar a maioria de 17 deputados na Câmara dos Comuns de Westminster e, com isso, legitimar a estratégia definida pelo governo para negociar com a União Europeia o abandono do Reino Unido.
Mas passadas seis semanas dessa inesperada decisão, a diferença entre conservadores e trabalhistas reduziu para mais de metade. De acordo com um estudo publicado ontem pelo “The Guardian”, realizado em conjunto com a ICM, essa diferença situa-se agora nos 8%. Para além deste número, a subida de forma do Labour também encontra paralelo num outro inquérito, feito pela YouGov para o “Times”, na semana passada: no que toca aos eleitores com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, os trabalhistas esmagam os conservadores, com 69% das intenções de voto, contra apenas 12%.
Esta aproximação das duas principais forças políticas do Reino Unido nas sondagens, terá motivado, seguramente, o líder dos trabalhistas que, no debate televisivo de ontem à noite, portou-se bem melhor do que o esperado, de acordo com a maioria da comunicação social britânica. Para tal performance, muito terá contribuído o refreamento de Jeremy Corbyn, na defesa de algumas das suas posições mais controversas, como as de querer acabar com a monarquia, de nacionalizar os bancos ou de pôr fim ao programa nuclear britânico. “Não sou um ditador que diz às pessoas o que fazer, isto é um processo partidário. Foi por isso que fui eleito [líder do Labour, em 2016], para dar voz ao nosso partido e aos seus membros”, explicou Corbyn, citado pelo “Guardian”, justificando a não inclusão daqueles e de outros temas no manifesto eleitoral trabalhista.
O líder da esquerda destacou-se ainda por recusar-se a apontar uma meta, relativamente à redução do número de imigrantes no país, mostrar-se pouco convicto em poder vir a dar luz verde a ataques com drones, contra terroristas, e a prometer aumentar os impostos sobre os mais ricos.
O debate de ontem não foi, na realidade, um debate. May manteve-se firme na recusa em participar num frente-a-frente com Corbyn, pelo que os dois candidatos foram apenas protagonistas de um programa televisivo com o mesmo formato, de perguntas e respostas, quer da audiência, quer do jornalista do Channel 4, Jeremy Paxman. A primeira-ministra foi muito pressionada a dar respostas sobre o Brexit e voltou a defender, repetidamente, que “um não-acordo é melhor que um mau acordo” com a UE.
Mais a norte, a ‘First Minister’ da Escócia, optou por uma estratégia semelhante à de Corbyn, na apresentação do programa eleitoral do SNP. Ontem em Perth, Nicola Sturgeon voltou atrás no timing da sua principal promessa e garantiu que o partido apenas vai avançar para um referendo independentista, “no final do processo do Brexit” e não durante as negociações, como ameaçado. A líder do SNP colocou ainda enormes esperanças no resultado das eleições da próxima semana, tendo em conta o objetivo da realização daquela consulta popular. “Se o SNP vencer a maioria dos lugares escoceses (…) as tentativas continuadas dos tories em bloquear a hipótese de a Escócia poder escolher, serão democraticamente insustentáveis”, defendeu, citada pela BBC.