Se no primeiro dia das Conferências do Estoril o centro de congressos esteve cheio de jovens adolescentes e estudantes universitários, ontem a plateia mudou. Portugueses, ingleses, espanhóis, franceses, pessoas de várias idades e nacionalidades deslocaram-se até ao Estoril para ouvir algumas das personalidades mais importantes da atualidade.
Um dos principais momentos do dia foi a atribuição do Estoril Conferences Distinguished Book Prize ao Nobel da Economia Joseph Stiglitz, pelo livro “O euro e a sua ameaça ao futuro da Europa”, entregue pelo diretor do i e do SOL, Mário Ramires, e o diretor da Nova School of Business and Economics, Daniel Traça.
Durante o seu discurso, Stiglitz apontou o dedo à Zona Euro, afirmando que a sua estrutura é a causa dos problemas que os países que aderiram à moeda única enfrentam. “Será que o problema resulta das políticas dos líderes europeus, das políticas dos países? Essa ideia está errada. O problema está na estrutura da própria Zona Euro”, defendeu o economista norte-americano.
“O euro criou um sistema divergente, onde os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres”, acrescentou o vencedor do Prémio Nobel.
Stiglitz disse ainda que as regras europeias “foram desenhadas para restringir o Governo, limitar défices, limitar dívidas e limitar a política monetária”, mas que os números impostos foram criados por seres humanos e, consequentemente, são falíveis. “Esses números são tratados como se tivessem sido dados por Deus, como se fosse uma violação das leis básicas da natureza quebrar essas regras”, afirmou.
Farage e o ‘Portexit’
Depois da hora de almoço, foi a vez de Nigel Farage falar e fazer campanha pelo ‘Portexit’ – a saída de Portugal da União Europeia. “Não se pode ser um cidadão português e apoiar a União Europeia. Ou querem ser independentes, ou querem ser mais uma estrela numa bandeira. Se os portugueses querem fazer parte da União Europeia, onde não têm praticamente uma palavra a dizer sobre o seu futuro, tudo bem”, afirmou o líder do partido britânico UKIP, recebendo vários aplausos.
Durante a sua palestra, Farage afirmou que não fez apenas campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, mas sim da saída da própria Europa deste projeto. “Não acredito que aquelas estruturas de vidro, aqueles homens que estão em Bruxelas representem a Europa. (…) Não sou anti-europeu, trabalhei para empresas francesas, os meus filhos são bilingues. Sou mais europeu que Barroso, Juncker e todos os outros”, disse o político britânico.
Snowden em palco e na tela
Mas o momento mais esperado do dia chegou às 17h00 da tarde, com a presença do antigo espião da CIA e da NSA, Edward Snowden. E apesar de não estar fisicamente presente no Centro de Congresso do Estoril, pouco faltava para que isso acontecesse: além de estar a falar através de videoconferência e a sua imagem ser projetada numa tela gigante, Snowden comunicou também através de um robô de transmissão de videoconferência, que se movimentava em palco consoante os comandos do norte-americano.
No seu discurso, o antigo espião norte-americano defendeu que as “leis cobardes” aplicadas para tentar travar o terrorismo acabam por ser mais eficientes a restringir os direitos dos cidadãos do que a previnir atentados.
“A lei não nos defende, nós é que defendemos a lei. E quando a lei trabalha contra nós, cada um de nós tem a incumbência de a deitar abaixo. Não lutámos em revoluções nos nossos países pelo acesso a políticas secretas ou regulamentação, lutámos para estabelecer direitos universais e esses direitos estão ameaçados hoje em dia”, afirmou Snowden, que se encontra exilado na Rússia depois de ter sido acusado de espionagem nos Estados Unidos por revelar os programas que compõem o sistema de vigilância global daquele país.
Snowden foi mais longe e afirmou que os cidadãos estão mais vulneráveis às leis dos Estados do que aos atos terroristas, dizendo que aqueles que os perpetram são incapazes de destruir os nossos direitos ou diminuir as nossas sociedades, não têm força para isso. “Só nós podemos fazer isso, pelo medo. Os direitos perdem-se com leis cobardes, que são aprovadas em momentos de pânico. Devido a líderes que temem mais a perda do cargo do que temem a perda das nossas liberdades”.
Questionado sobre a possibilidade de vir a revelar mais segredos, Edward Snowden deu uma resposta direta: “Não tenho mais informação para revelar, tudo o que tinha dei a jornalistas na altura”.