O presidente norte-americano ignorou esta quinta-feira os pedidos de última hora de empresas e líderes internacionais e anunciou que vai retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris para a proteção do clima, efetivamente desvinculando o segundo país mais poluento do mundo – e o que mais contaminou a atmostera desde a Revolução Industrial – das metas de redução no nível de gases de estufa emitidos todos os anos. A decisão já fora antecipada pela imprensa na quarta-feira, despertando uma montanha de apelos, ameaças e promessas, mas só esta quinta é que Donald Trump anunciou formalmente que os EUA se vão juntar à Síria e Nicarágua no grupo dos três únicos países a não participarem no Acordo, acrescentando, no entanto, que o seu governo tentará renegociar a sua adesão, sob critérios menos ambiciosos.
“Vamos sair, mas vamos tentar negociar e ver se conseguimos realizar um acordo que seja justo”, disse Trump, argumentando que as metas são injustas para os Estados Unidos e dão vantagens económicas a adversários. Apesar disso, e contrariando declarações passadas em que colocou em causa o consenso científico sobre a ação humana nas alterações climáticas, o presidente americano não recusou esta quinta-feira a ideia de que o planeta está em risco ambiental e colocou-se até do lado de quem se preocupa com o clima. “Como alguém que se preocupa profundamente com o ambiente, como é o meu caso, não posso em boa consciência apoiar um acordo que prejudica os Estados Unidos, como é o caso.”
Respondendo às censuras dos últimos dias vindas de todo o mundo, Trump mencionou uma conspiração global para limitar o crescimento económico nos Estados Unidos e enviar os seus empregos nas indústrias do carvão, petróleo e gás natural para outros países, como a China, que tem planeada a construção de mais centrais com base em combustíveis fósseis. “O acordo é uma redistribuição massiça de riqueza dos Estados Unidos para outros países”, disse Trump, apesar de ter ouvido esta quinta centenas de apelos de empresas norte-americanas – incluindo a gigante Exxon Mobil – no sentido de se preservar no Acordo de Paris.
Trump derruba assim um dos mais consequentes pilares da presidência de Barack Obama, que criou mais regras ambientais em solo americano que qualquer outro presidente americano e foi uma das peças cruciais para a construção do Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015 e entretanto ratificado por mais de 140 países. No mundo, a decisão anunciada esta quinta-feira por Donald Trump prejudica um acordo que começou a ser construído pelas Nações Unidas há mais de uma década. Antes das declarações de Trump, Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, confirmou que assinará hoje com a China um acordo para se tornarem parceiros no combate às alterações climáticas, dizendo que a UE não se comportará “como um vassalo dos americanos”. “Esta noção – ‘Eu sou Trump, eu sou americano, América em primeiro, por isso vou-me retirar – não vai acontecer”, lançou.
O Acordo de Paris tem como principal objetivo impedir que o aquecimento global exceda a merca dos 2º Celsius em relação ao período pré-industrial, ponto a partir do qual o planeta perderá parte da capacidade para arrefecer por si próprio e o nível das águas aumentará, assim como o número de inundações, fogos e tempestades. O marco é sobretudo político, uma vez que as consequências das alterações climáticas já se notam com o atual aquecimento de mais ou menos um grau. O seu sucesso em angariar economias em desenvolvimento reside na flexibilidade que dá aos parceiros para limitarem as emissões ao seu ritmo, criando, para além disso, um fundo de 100 mil milhões de dólares anuais para países mais pobres trocarem combustíveis fósseis por fontes de energia menos poluentes – algo severamente criticado esta quinta-feira por Trump.