Entramos hoje naquele mês do ano em que Lisboa se transforma, na sua quase totalidade, num arraial ao ar livre. Claro que os bairros tradicionais são reis, campeões e senhores nesta que é a disputa (maioritariamente) cordial pelas honras de maior e melhor festarola, mas a verdade é que até as zonas com menos galões na tradição já têm o seu próprio arraial. Veja-se, por exemplo, o Parque das Nações.
Pusemos em mapa a informação sobre os arraiais que pode encontrar até 30 de junho na cidade, facilitada pela EGEAC, que promove as festas. Se a noite de 12 para 13 é rainha e senhora dos Santos Populares de Lisboa, há arraiais onde pode dar um pezinho de dança tanto antes como depois da grande noite. Uma espécie de entrada ou sobremesa, portanto.
Podem ser o centro nevrálgico da coisa, mas a programação abençoada por Santo António – e pela Câmara Municipal de Lisboa, diga-se, que organiza oficialmente as festas desde 1934 – não se finda nos arraiais. E pela programação extra não nos referimos nem às marchas nem aos casamentos de Santo António, que já vêm incluídos no pacote. Há concertos na rua – por exemplo, este sábado, a Orquestra da Gulbenkian interpreta o histórico Concerto de Aranjuez na Praça do Comércio. Há exposições sobre fado e a modernidade do culto de Santo António, mas, no ano em que a cidade se assume como a capital ibero–americana da Cultura, destacamos a exposição “Operação Condor”, tributo do fotógrafo João Pina à memória dos sobreviventes da aliança homónima feita entre seis países governados por ditadores – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai – durante o auge da Guerra Fria e que pode ser vista no torreão poente da Praça do Comércio até 2 de julho.
Há ainda festas solidárias, festas para os mais pequenos – quer na rua, quer em museus -, teatro, noites e exposições de literatura. O roteiro completo das atividades disponíveis durante o mês – quem conseguir marcar presença em toda a oferta merece uma rodada, se bem que nos parece uma tarefa virtualmente impossível – pode ser consultado na página oficial da EGEAC.
Agora, um apelo sensorial: junte tudo isto com o cheiro a sardinhas assadas, pimentos e manjericos, regue com cerveja e sirva numa daquelas noites sem casaco. Não se esqueça dos sapatos confortáveis para dançar até voltar a casa no dia seguinte, à sombra dos jacarandás. Por último, mas não menos importante: a entrada na esmagadora maioria dos eventos das festas populares de Lisboa é gratuita.
E depois admiramo-nos que os turistas andem loucos a sugar a cidade. Pudera.