Margaret Court levanta questões de intolerância

São da sua autoria proclamações de brutal intolerância como ‘os transgéneros são uma criação do diabo e de Hitler’, ou ‘o ténis está cheio de lésbicas’

Margaret Court é uma das maiores figuras de todos os tempos no ténis. Ninguém tem mais títulos do Grand Slam (24).

A australiana ganhou como amadora, como profissional, antes e depois de ser mãe e revolucionou o atleticismo feminino.

Foi uma campeã notável e só a memória curta faz com que o seu nome se desvaneça, quando deveria estar ao lado de Serena Williams e Steffi Graf.

Depois do ténis, Margaret Court dedicou-se à religião. Apesar de formação católica, é reverenda na Igreja Pentecostal e tem um programa radiofónico na Vision Chtristian Radio, em Perth.

A coragem que sempre revelou no court, no seu estilo atacante de serviço-vólei, persiste na sua atividade pastoral.

Mesmo aos 74 anos é demasiado frontal nas suas convicções, numa cruzada contra a homossexualidade e a transexualidade.

São da sua autoria proclamações de brutal intolerância como «os transgéneros são uma criação do diabo e de Hitler», «o casamento gay segue a mesma política da propaganda nazi», «o ténis está cheio de lésbicas».

Em 2013, numa carta aberta à tenista Casey Dellacqua, que, juntamente com a sua companheira, celebrava o nascimento do primeiro filho, acusou-a de «privar a criança de um pai».

Durante esta semana, Margaret Court atacou a Quantas, por o seu presidente-executivo, Alan Joyce, ter assinado uma petição de apoio ao casamento homossexual, juntamente com 19 outros quadros superiores de empresas australianas.

Foi a gota de água que transbordou o copo e vários jogadores exigem que o Open da Austrália retire o nome de Margaret Court Arena ao segundo estádio de Melbourne Park.

Billie Jean King e Martina Navratilova, enormes campeãs de ténis e defensoras dos direitos humanos, que também são homossexuais assumidas, integram esse movimento.

O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, defende que «independentemente do que as pessoas possam pensar dos pontos de vista de Margaret Court sobre o casamento gay, ela é uma das maiores tenistas de sempre e a Margaret Court Arena homenageia a jogadora de ténis».

Concordo. Quando vou ao Estádio Dom Afonso Henriques para ver futebol é-me irrelevante as opiniões do primeiro rei de Portugal sobre os agora chamados temas fraturantes.

 

Washington, Wagner, Churchill, Sartre foram pequenos em muitas coisas, mas são recordados por grandes obras. Deixaram legado.

Aliás, sempre apreciei a máxima de Voltaire: «Não estou de acordo com aquilo que dizeis, mas lutarei até à morte para que vos seja possível dizê-lo».

Apagar a história nunca foi boa política.