As conferências são uma atividade económica, e como qualquer atividade económica tem regras, condições e mercados próprios. Há conferências más (a maioria), medianas (poucas) e muito boas (raras).
Como somos um país pobre, que gosta pouco de discutir seriamente – e em que, na pequena Lisboa onde tudo isto se passa, toda a gente almoça com toda a gente e meio mundo deve favores ao outro meio –, as conferências são um espelho disso mesmo: as nossas figuras/conferencistas debitam um rol de lugares-comuns, frases feitas, bem espartilhadas na ditadura do politicamente correto. Enfim, um atentado à inteligência sob a forma de perda de tempo.
Conheço apenas duas exceções. Uma, são os encontros anuais da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que em 2016 nos trouxe o Nobel Vargas Llosa para uma lição de sapiência sobre democracia no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa. A outra, são as Conferências do Estoril, organizadas pela Câmara de Cascais, a cada dois anos. Esta semana teve lugar a quinta edição, com um surpreendente e arrebatador debate entre Nigel Farage e Francisco Assis.
Nigel Farage deu-nos lições de populismo. O populismo não é só aquele pedaço de discurso que vemos nas televisões, é muito mais do que isso. Em Farage, começa na atitude com que se senta, melhor, se derrama, na cadeira, como se estivesse deitado no sofá lá de casa; e prossegue com o salto que dá para o púlpito, no vozeirão que coloca, nas frases cadenciadas projetadas para a sala toda, cáustico quando larga cada atoarda numa excelente oratória.
Toda esta performance, porque é disso que se trata, tem o efeito esperado: uma sala polarizada. Uns violentamente a favor, outros violentamente contra. De repente, numa sala cordata, há claques, há radicalização, acabam-se os consensos e as pontes.
Seguiu-se-lhe Francisco Assis. Se Farage nos mostrou o que é ser um populista, Francisco Assis mostrou como se combate o vírus: com uma atitude empenhada, otimista, construtiva, com oratória, com competência, com conhecimento do assunto Europa, com credibilidade. Em suma, deu uma resposta à altura. Essa foi a segunda lição e duvido que haja muitos políticos portugueses com esse conjunto de qualidades para fazer face a um bully como Farage ou outro da mesma estirpe.
Uma terceira lição de populismo foi a forma como Farage se relacionou com os participantes que lhe fizeram perguntas. Ao contrário do que sempre vi em todos os políticos portugueses neste tipo de eventos, mesmo os mais populistas e demagógicos como Francisco Louçã ou Catarina Martins, não houve nenhum tipo de cortesia ou educação para com aqueles que dele divergem. Insultou-os sem dó nem piedade.
O populismo não pode ser menosprezado. Tem de ser entendido, estudado, dissecado, combatido e vencido. Nigel Farage e outros têm de ser levados muito a sério. É para isso que devem servir as conferências e é por isso que estas são extraordinárias. São um ganho de inteligência e de tempo.
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