Para ser maçon não basta bater à porta

Para ser maçon é preciso receber um convite e passar por inúmeras provas. Até chegar ao útimo grau pode levar mais de dois anos.

Se um cidadão comum quiser entrar para a maçonaria sem ter conhecimentos dentro da instituição pode fazê-lo? «Não conheço nenhum caso», garante ao SOL um maçon. O procedimento normal é outro e o mais comum é entrar na maçonaria através de um convite.

O longo processo até chegar a mestre – o último grau que permite, por exemplo, votar nas eleições para grão-mestre ou falar nas reuniões – pode demorar dois anos ou mais e começa geralmente com uma conversa informal com o futuro maçon. «O caminho habitual é por convite. Algum amigo que seja maçon encaminha-o», diz ao SOL o ex-grão-mestre da Grande Loja Regular de Portugal José Manuel Annes.

Na primeira abordagem a ideia é perceber qual é a relação que o eventual convidado tem com a instituição. «Se tiver uma ideia negativa a coisa fica por aí e não chega a ser convidado», conta um maçon que pertence ao Grande Oriente Lusitano (GOL). Caso a pessoa em causa mostre interesse a sua entrada será analisada e votada na loja a que pertence o maçon que propôs o novo nome.

Se for aprovado, o Venerável (o maçon que coordena os trabalhos na loja) encarrega três mestres de terem uma conversa com o candidato. «Dessas conversas sairão os relatórios com o perfil dele e há uma nova votação para avaliar se está em condições para continuar o processo».

O nome de quem está prestes a ser iniciado é colocado durante um mês numa vitrine com um pano preto à frente. Qualquer maçon pode tentar travar a sua entrada. «Este processo demora, no mínimo, dois ou três meses, mas pode demorar mais», garante ao SOL o mesmo maçon. José Manuel Annes garante que «há obediências que já pedem, antes da entrada, o certificado de registo criminal».

 

Iniciação de olhos tapados e a entrada numa ‘vida nova’

O próximo passo é marcar a iniciação. «Significa, literalmente, início, entrada e é, de facto, uma vida nova», explica António Arnaut, no livro Introdução à Maçonaria. O candidato é colocado numa «câmara de reflexão», local onde fica várias horas a meditar e a preparar a sua intervenção. Durante todo o processo de iniciação está de olhos tapados e é sujeito a um questionário. «Se o candidato obtém aprovação, é-lhe ensinada a palavra sagrada do primeiro grau e os respetivos sinais e toques para ser reconhecido e reconhecer os seus irmãos».

Se, por exemplo, dois maçons estão a conversar na rua e se aproxima alguém que pertence à organização, o maçon pode avisar o outro com a expressão «está a chover». Quando um maçon não tem a certeza se está diante de outro maçon, cumprimenta-o dando-lhe três toques no polegar.

 

Aprendizes e companheiros não podem falar nas reuniões

O primeiro grau é o de aprendiz. Uma condição que não lhe permite falar nas reuniões da loja. «Está ali para ouvir a aprender», resume. Para passar a companheiro e depois a mestre, o maçon tem de frequentar as sessões e apresentar trabalhos de reflexão.

A subida de grau volta a depender da aprovação dos restantes maçons. Até chegar a mestre, o último grau, pode levar «dois anos, mas há lojas mais rigorosas em que esse processo é mais longo». Só quando atinge este grau é que pode falar nas reuniões da loja ou, por exemplo, votar nas eleições para escolher o grão-mestre.

Os maçons garantem que não é qualquer pessoa que entra para a maçonaria. António Reis, o socialista que esteve à frente da maçonaria entre 2005 e 2011, defendeu, numa entrevista ao i, que o processo é «muito seletivo» e é feito entre «as elites académicas, culturais, políticas… As elites em geral». António Arnaut, grão-mestre entre 2002 e 2005, também garante que «não é maçon quem quer» e que o processo de seleção é rigoroso. «Para se ser maçon tem de se sujeitar a uma série de provas que realmente garantem a sua honestidade, lisura, verticalidade, embora passem alguns que nunca lá deviam ter entrado», garante o ‘pai’ do Serviço Nacional de Saúde.