O jovem movimento político que começou exclusivamente como plataforma para a candidatura de Emmanuel Macron está prestes a solidificar a nova paisagem política francesa com uma maioria absoluta e dar ao novo Presidente de França todas as ferramentas necessárias para as ambiciosas – e provavelmente fraturantes – reformas laborais e económicas que propõe. Só no mês que decorreu desde a segunda volta entre Macron e Marine Le Pen, o La République en Marche aumentou dez pontos percentuais nas sondagens e pode esperar cerca de 30% dos votos na primeira volta deste domingo, de acordo com a última consulta da agência Ifop, que projeta uma maioria absoluta confortável para o novo líder: entre 310 e 330 deputados, muito acima dos 289 assentos necessários para a maioria. «Há um mês, apesar da sua vitória, estava cético em relação às chances que Macron tinha de conseguir uma maioria parlamentar», explica ao Financial Times Jérôme Fourquet, o responsável pelas sondagens do Ifop. «Agora podemos totalmente esperá-lo. Estamos a testemunhar uma mudança história da cena política francesa,»
Isto deve-se em parte ao bom começo de Macron. O resto deve-se aos eleitores que votaram nele apenas para barrar o poder à extrema-direita e que agora parecem estar a dizer «ok, vamos dar-lhe uma hipótese», explica Fourquet. Desde que tomou posse, Macron posicionou-se com força no plano internacional, onde confrontou Donald Trump na sua visita europeia e mais tarde contestou a decisão americana de abandonar o Acordo de Paris para as alterações climáticas. E não é só o papel de homem forte que lhe vale a boa vontade do eleitorado. Macron construiu já com a chanceler alemã Angela Merkel aquilo que parecem bases comuns para reformas na Zona Euro, como a criação de um ministro das Finanças e orçamento comum, por exemplo. A mutualização da dívida parece ainda fora da mesa, mas o mesmo Emmanuel Macron acusado de ser um principiante parece movimentar-se com mais facilidade do que o seu antecessor. «Macron está a reativar a presidência – depois da incapacidade de Holande, argumenta Luc Rouban, investigador na Sciences Po. «É como se os franceses estivessem a redescobrir a instituição nuclear da V República.»
Macron aproveita uma combinação da novidade de um movimento composto por figuras do centro-esquerda, centro-direita, independentes e absolutos novatos na política, e do descontentamento com os partidos tradicionais. O Partido Socialista espera um resultado catastrófico de 8%; abaixo dos 11% da plataforma da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon – ambos os partidos, porém, podem esperar entre 25 a 30 deputados. O Les Républicains, que perdeu alguns dos principais candidatos para o movimento de Macron, deve conseguir cerca de 20% afirmar-se como a principal força da oposição e obter, no máximo, 160 deputados.
A Frente Nacional de Marine Le Pen vê-se numa encruzilhada que pode definir o futuro do partido. As projeções indicam que pode vencer cerca de 18% dos votos, o que efetivamente torna-a a terceira força política. Mas a geografia eleitoral francesa não joga a seu favor. Apesar de ter números semelhantes ao do partido gaulista, a formação de Marine Le Pen não pode esperar as mesmas dezenas de deputados – ficará em segundo em muitos círculos, embora isso só se defina na segunda volta, a dia 18. Nem é certo que a Frente Nacional chegue aos 15 deputados necessários para formar um bloco parlamentar, o que lhe dá direito a mais tempo de antena e maiores facilidades de financiamento. E isso será considerado um fracasso eleitoral para um partido que há meses desejava mais de cem deputados e sonhava com a presidência.