May pediu perdão e prometeu tirar os tories da confusão em que os meteu

Primeira-ministra reuniu-se com o grupo parlamentar conservador e assumiu todas as culpas pelo descalabro eleitoral da semana passada. Amanhã reúne-se com DUP

A antecipação da reunião do 1922 Committee – o nome pelo qual é conhecido o grupo parlamentar do Partido Conservador –, de amanhã para hoje, foi encarada por uma boa parte da comunicação social britânica como o derradeiro teste à liderança de Theresa May, junto da sua família política. Colossalmente fragilizada politicamente, depois do resultado desastroso das eleições antecipadas da passada quinta-feira, a primeira-ministra apresentou-se a uma sala apinhada de deputados e membros da Câmara dos Lordes, para explicar os seus planos para o futuro do Reino Unido, oferecer garantias no que toca ao acordo que irá propor, hoje, aos ultraconservador norte-irlandeses do Partido Democrático Unionista (DUP), e provar que ainda merece a confiança dos tories para liderar o governo e o partido.

No final do encontro, a imprensa britânica era unânime: May ganhou mais uma vida e continua firmemente agarrada ao poder. De acordo com vários  deputados conservadores que falaram à comunicação social, sob anonimato, a líder tory assumiu todas as responsabilidades pelo fracasso eleitoral e garantiu aos seus colegas partidários que é a pessoa certa para inverter esse rumo suicida. “Fui eu que nos coloquei nesta confusão e serei eu a tirar-nos dela”, terá afiançado Theresa May.

“[May] mostrou-se arrependida e genuína, sem se colocar de joelhos”, contou um deputado à BBC. “Ela mostrou-se muito preocupada com os que perderam os seus lugares e [prometeu] que o partido os vai ajudar. Pediu desculpa várias vezes”, narrou outro, ao “The Guardian”.

Sobre a aliança com o DUP, May prometeu que unionistas não terão qualquer “poder de veto” ou de participação na agenda social do futuro executivo, e assegurou que os direitos LGBT, entre outros, “não serão afetados” por esse compromisso governamental.

Relativamente à estratégia do executivo para as negociações com a União Europeia, May terá admitido que o governo vai optar por abordagem ligeiramente distinta da apregoada nos últimos meses, de forma a incluir no processo “todas as vozes dentro do partido”.

Embora a primeira-ministra se mostrado disposta a liderar os conservadores “durante o tempo que a quiserem”, aquilo que os tories ouviram da sua boca, na reunião desta segunda-feira, parece ter chegado para descartarem, para já, uma disputa interna pela liderança do partido.

Prazos a cumprir

Do encontro do 1922 Committee não possível perceber, no entanto, se os rumores sobre a hipótese de atraso do início da legislatura são verdadeiros. O discurso da rainha Isabel II, em Westminster, marca o início da atividade parlamentar e está marcado para o próximo dia 19, segunda-feira, mas de acordo com a BBC, a ausência de um compromisso oficial entre o Partido Conservador e o DUP, pode obrigar ao adiamento desse ato solene.

Curiosamente, a data marcada para o “Discurso da Rainha” coincide com a data acordada entre Theresa May e as autoridades europeias, para se dar o pontapé de saída nas negociações entre Londres e Bruxelas. Na carta de parabéns à vitória eleitoral torie, sem maioria parlamentar, o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk lembrou que “não há tempo a perder” e a chanceler alemã Angela Merkel veio a terreiro garantir que a UE “está pronta” para iniciar as conversas na data prevista.

Resta saber se May conseguirá cumprir a agenda. Hoje, depois da reunião com a unionista Arlene Foster, pode começar a desenhar-se, enfim, o governo e o Brexit.