Museu do Dinheiro considerado o melhor museu do ano

 

O Museu do Dinheiro foi considerado o “Melhor Museu do Ano 2017” pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM). 

O prémio foi atribuído ao espaço museológico – que tem pouco mais de um ano – na passada sexta-feira, numa cerimónia que decorreu no Museu Soares dos Reis, no Porto. 

"O Museu do Dinheiro é um projeto chave na abertura do Banco à sociedade e a atribuição deste importante prémio a nível nacional enche-nos de orgulho. Mas traz-nos também responsabilidades acrescidas, de manter a diversidade e qualidade da programação, assim como continuar a apostar na promoção do conhecimento, contribuindo para uma sociedade mais bem informada sobre as questões económicas e financeiras. Estamos apenas no início", disse o Governador do Banco de Portugal, Carlos da Silva, em comunicado enviado às redações.

 

Em abril, o i visitou o Museu do Dinheiro. Recorde o artigo publicado na edição impressa do jornal de 27 de abril.

Museu do Dinheiro. Um ano a mostrar (e contar) moedas

Não queremos uma abordagem à la Tio Patinhas, mas já que falamos do Museu do Dinheiro parece-nos mais do que jus­to – e previsível, vá – começar pelos núme­ros. Oito exposições temporárias (cinco de arte contemporânea, duas de arqueo­logia e uma em parceria com a Impren­sa Nacional Casa da Moeda), 210 dias de abertura, 71 606 visitantes – o que dá uma média de 340 visitantes por dia -, 1190 atividades com 21 599 participan­tes e 1610 comentários no livro de hon­ra depois, na sexta–feira passada foi o dia de soprar velas e comemorar um ano de existência.

E numa altura em que os turistas cons­tituem o grosso dos visitantes dos espa­ços museológicos, é bonito deixar esta ressalva: neste primeiro ano, 85% dos visitantes do Museu do Dinheiro são por­tugueses. “A temática provou ser fértil e gerou curiosidade num público diver­sificado em que se inclui o habitual fre­quentador de museus, entre outros cida­dãos que visitaram movidos pela curio­sidade de conhecer o museu que está instalado numa antiga igreja da Baixa pombalina, inteiramente reabilitada para o efeito”, sintetiza Sara Barriga, coordenadora do Museu do Dinheiro, que acredita que o projeto está “no cami­nho certo” e que o impacto do museu é “o somatório dos sorrisos, dos olhares de espanto, dos diálogos nas salas, no auditório, na biblioteca, e das inúmeras questões que revelaram o interesse de crianças, professores, famílias, jovens e adultos de várias idades e origens. Faze­mos, portanto, um balanço que vai para além dos números e se centra no reco­nhecimento dos visitantes que regres­sam ao museu.”

A responsável indica que a vocação do espaço é tratada de forma pluralista. “Falar sobre o dinheiro no museu é tam­bém falar de história económica, da ban­ca, da arte, da ciência e tecnologia, da diáspora e do poder, da numismática, das trocas entre povos de diferentes ori­gens e culturas, da necessidade de valo­rizar e de confiar”, diz Sara Barriga.

O slogan do museu – “Venha ver dinhei­ro” – vai ao encontro da mensagem da res­ponsável e não engana, na verdade, nin­guém. Por aqui pode encontrar a história do dinheiro, da moeda e da banca, e ain­da testemunhos da relação das pessoas com o dinheiro. Além disso, as instalações do museu – que ocuparam a antiga Igre­ja de São Julião, paredes-meias com os Paços do Concelho – têm um bónus: o aces­so a um troço da muralha de D. Dinis. Clas­sificada como monumento nacional, esta é a única muralha medieval de Lisboa. Soterrada após o terramoto de 1755, foi (re)descoberta em 2010 durante a remo­delação da sede do Banco de Portugal e é um dos pontos de interesse do local, cuja entrada permanece gratuita.

A visita ao Museu do Dinheiro é, por­tanto, transdisciplinar e tem apenas um senão: as instalações só estão abertas de quarta a sábado.

PARA VER Se a muralha não vai a lado nenhum, o mesmo não se pode dizer das mostras que vão usando as paredes de S. Julião como estalagem. De entre as expo­sições temporárias que por aqui já pas­saram, foquemo-nos na que foi inaugu­rada nos princípios de abril e estará paten­te até 10 de junho: “Francisco d’Holanda: Desejo, Desígnio e Desenho (1517-2017)”.

Se nunca ouviu falar do personagem, não se menospreze. É que, apesar do peso indubitável de Francisco d’Holan- da na história portuguesa, a verdade é que as marcas do humanista são apenas descobertas por quem as procura, e não por quem nelas tropeça – uma realida­de que a exposição quer mudar.

Mas como se faz uma exposição a par­tir de uma vida que deixou uma marca indelével na cultura em Portugal mas que, como personagem, passou quase despercebido entre os pingos da Histó­ria? Com alguma imaginação mas, sobre­tudo, com a vontade firmada de gerar curiosidade em torno de Francisco dHolan- da, nascido há 500 anos. Mas quem foi este homem com nome de outra terra nascido em Lisboa? Qual foi o seu papel na vida artística do reino? Que legado – e inspirações – deixou?

É para dar resposta a esta e outras questões – e, sobretudo, para criar novas dúvidas junto do visitante – que o Museu do Dinheiro serve de abrigo às come­morações dos 500 anos do nascimento do humanista.

A exposição conta com a curadoria de Francisco Providência, Gabriela Casella e Margarida Cunha Belém. Os três curado­res e responsáveis pelo projeto expositivo tropeçaram na vida deste homem por três vias distintas. Francisco conheceu Fran­cisco através do design; Margarida, das belas-artes; e Gabriela, da história da arte.

“Muita gente só se depara com Fran­cisco d’Holanda quando se põe a estu­dar Miguel Ângelo”, conta Margarida Cunha Belém.

Foi durante uma espécie de Erasmus antecipado uns séculos que Francisco dHolanda, filho de um iluminista e bolsei­ro do rei, havia de tornar-se maior e que o tal encontro com um dos nomes maiores do Renascimento surgiria. Os relatos das conversas podem ser ouvidos na exposi­ção, que conta também, por exemplo, com esquissos de um projeto da ponte de Saca- vém, que nunca seriam construídos mas que serviriam de inspiração, centenas de anos mais tarde, para o Aqueduto das Aguas Livres. Entre as suas obras destaca-se o tratado “Da Pintura Antiga” (1548-1549) que, como outras pérolas, foi levado para Espanha durante a ocupação filipina.

Um homem com muitas artes por den­tro talvez seja a forma que melhor assen­ta ao homenageado. Afinal, cresceu como homem em pleno Renascimento e foi uma das maiores figuras do movimen­to cultural em terras lusas – mas não só. Pintor, desenhador, arquiteto, iluminis- ta, ensaísta e idealista.

Até 10 de junho, o museu tem planea­das diversas atividades em torno da expo­sição que podem ser consultadas na sua página oficial.