Os conservadores britânicos começam a mudar de rumo, absorvendo as lições aprendidas com o seu mais recente e inesperado desaire eleitoral. Que rumo será esse ao certo, ninguém parece ser capaz de dizer por agora. Governantes próximos da primeira-ministra sugeriam ontem que Theresa May deve repensar a austeridade, por exemplo, argumentando que esse tema foi fundamental para o ressurgimento dos trabalhistas. O Brexit é um dossiê subitamente em aberto, com os partidos da oposição a reivindicarem um lugar à mesa das negociações e o fim da saída “dura” que May exigia antes das eleições.
A primeira-ministra, no entanto, ainda tem de terminar as negociações com os unionistas irlandeses que lhe podem garantir a maioria que perdeu na semana passada, e mesmo que ninguém espere um passo maior do que a perna por parte do DUP – que em princípio se deve limitar a concessões em matéria de pensões e subsídios a reformados – fazer um pacto com os protestantes da Irlanda do Norte tem riscos políticos. John Major, o ex-primeiro-ministro conservador, aliás, dizia-o ontem, sugerindo a May que não perturbe o acordo de paz irlandês e em vez disso tente governar em minoria. Apesar dos alertas de Major, a primeira reunião entre conservadores e DUP deu-se ontem e Arlene Foster, a líder dos irlandeses, disse que as “discussões estão a correr bem”.
Muito do que diz respeito ao próximo governo britânico parece estar no ar. May fez ontem mudanças na sua equipa para o Brexit, demitindo velhos responsáveis e nomeando novos, como o deputado Steve Baker, uma das vozes mais vociferantes em nome da saída durante a campanha. A sua nomeação, prontamente criticada pelos Liberais Democratas por aparentemente insistir na saída “à dura” que os eleitores parecem ter rejeitado, pode na verdade ser um sinal de moderação no discurso sobre a UE. Minutos antes de ser nomeado, Baker escreveu no Twitter que o seu objetivo é conseguir uma saída que “minimize a disrupção”, ou, “por outras palavras: precisamos da saída mais branda que seja consistente com sairmos de facto”.
Seja como for a nova postura britânica, Bruxelas estava ontem exasperada por tantas mudanças a tão pouco do começo das negociações, marcadas para o próximo dia 19. “Esperamos impacientemente pela posição negocial do governo britânico”, escrevia ontem o alto responsável do Parlamento Europeu para o Brexit, Guy Verhofstadt. “A incerteza corrente não pode continuar”, acrescentou.
Visita a Paris
Theresa May chegou ontem ao final da tarde a Paris para o seu primeiro encontro com o presidente francês rodeada de incerteza – e não pela aura de um triunfo abismal, como se esperava há semanas e registava o “Guardian”. A primeira-ministra assegurou que o governo não porá em risco os acordos de paz irlandeses e defendeu uma “parceria profunda e especial” com a União Europeia depois do Brexit. Ao seu lado, numa conferência de imprensa sem grandes detalhes, Emmanuel Macron assegurou que a porta à permanência britânica na comunidade europeia continuará aberta até o país de facto partir. Muito está indefinido em Londres, mas talvez não o suficiente para Macron ter o que deseja.