Skepta – NOS Primavera Sound
A segunda oportunidade do grime tem em Skepta o porta-estandarte. Filho da mesma geração de Mike Skinner (The Streets) e Dizzee Rascal, não tem o estatuto de pioneiro destes mas também não se ofuscou. E quando Kanye West e Drake viram que o grime merecia ser conhecido pelos americanos, Skepta esteve no sítio certo à hora certa a responder com hinos como “Shutdown” ou trilhas perigosas como “It Ain’t Safe”. Há muita gente a ir ao Porto só para o ver pela primeira vez.
Elza Soares – NOS Primavera Sound
A mulher do fim do mundo ainda não chegou ao fim da linha e mesmo que a digressão europeia com passagem pelo Porto venha a ser última, será uma despedida com tudo a que tem direito. Um palco principal num festival com púbico que é o seu em momento absoluto de consagração de um álbum de uma vida que é um auto-retrato sofrido de violência familiar, operações plásticas, feridas emocionais, filhos que partiram e uma coragem infinita em deixar tudo para trás e construir algo a partir da fonte da dor.
Aphex Twin – NOS Primavera Sound
Por vezes, banalizam-se adjetivos com o grau de elevação de “génio”, “lenda” ou até “pioneiro”. Nenhum deles fica mal a Aphex Twin, heterónimo do excêntrico Richard David James, um dos mais carismáticos arquitetos da música eletrónica dos últimos 25 anos e um defensor acérrimo de uma ética anti-pop e fora da norma, próxima de um Banksy. Sem Aphex Twin, talvez não houvesse Burial. E o IDM seria confundido com o EDM.
Depeche Mode – NOS Alive
Clássicos são clássicos e vice-versa, afirmava um conhecido goleador que vestiu de azul e verde. Por mais que procuremos outros ângulos, esse é o fato dos Depeche Mode. São grandes gigantes com a altura dos maiores palcos porque não desistiram de se reinventar, bebendo referências atuais e, no novo álbum “Spirit”, ambicionando um discurso de objetividade política palpável no single “Where’s The Revolution”. Não sabem dar maus concertos e Dave Gahan é uma espécie de Elvis envolvido num manto eletrónico. Margem de erro: nula.
Bonobo – NOS Alive
A escola inglesa de produção eletrónica não se caracteriza só pela racionalidade. Vale também pela ética e discrição. Correndo por fora, sem grande alarido, Bonobo ganhou um lugar na linha da frente do que de mais importante se faz na música de bases maquinais, editando regularmente pela acima de qualquer suspeita Ninja Tune, até encontrar o seu próprio espaço. A palavra viagem não deve ser usada em vão. Bonobo faz jus à levitação e, sem se falar muito dele, deve ser um dos casos de consagração.
Future – Super Bock Super Rock
Se os Depeche Mode são um porto seguro, Future é uma das maiores incógnitas em palcos nacionais deste verão. Skepta é o rei do grime e Future o manda-chuva do trap, vertente sulista do hip-hop que dá que falar pela imperceptibilidade de 90% dos versos. O que é certo é que o rapper de Atlanta chega a Portugal, coroado nos EUA e idolatrado por gerações nascentes para quem o rock não é uma guitarra, nem amplificadores ou pedais. Não gera o consenso de Kendrick Lamar mas pode criar uma onda de espanto.
Slow J – Super Bock Super Rock
De longe, a maior revelação da música portuguesa dos últimos anos. Slow J canta, escreve, produz, mistura e faz versos, mas a leitura do rap está para além das convenções e tanto pode ir buscar ao semba para recapitular a adolescência no Sado, como provocar um dueto em velocidade de cruzeiro com Nerve. “The Art of Slowing Down” é um clássico instantâneo da música portuguesa e tivesse sido feito noutro país, estaria em tudo o que é top global. O palco faz-lhe justiça.
Capitão Fausto – Super Bock Super Rock
Há onze anos no Rock In Rio, os Da Weasel no auge da forma deram uma abada a uns Red Hot Chili Peppers em meia-idade. Agora, é a melhor banda de rock deste país quem tem a oportunidade dar o maior concerto de uma carreira curta mas a voar à altura do sol. Os Capitão Fausto chegam ao MEO Arena no zénite, depois de terem esgotado o Coliseu dos Recreios e de impressionarem um pouco por onde passam. São a banda da moda mas há concertos mais especiais que outros.
Rodrigo Y Grabriela – EDP Cool Jazz
São uma dupla mas não cantam. Duetos só à guitarra. Tocam flamenco mas são fãs de Led Zeppelin e Metallica. Dedilham as seis cordas mas olham para a guitarra além do braço, explorando-a como um instrumento percussivo. Há toda uma probabilidade em Rodrigo Y Gabriela, só comparável ao pouco reconhecimento no espaço nacional. Este ano, o EDP Cool Jazz aposta nos dois guitarristas mexicanos e é bem provável que aconteça um antes e um depois de 18 de Julho. Os Jardins do Marquês de Pombal ajudam.
Mão Morta – Paredes de Coura
“Mutantes S. 21” é uma espécie de “Nevermind” dos Mão Morta. Não só porque saiu um ano depois do álbum definitivo dos Nirvana mas também porque em objetividade é muito parecido. Adolfo Luxúria Canibal também escreve amiúde sobre tendências suicidas, mas nunca deprimiu como Kurt Cobain e o disco do agora ou nunca para os bracarenses é uma jornada por nove cidades “entre as sombras e o lixo”, como diz a canção de Lisboa. 25 anos depois, é recuperado e atualizado com criação visual a acompanhar.
Ty Segall – Paredes de Coura
Se o nome do rock’n’roll anda a ser abastardado pelo indie, essa versão burguesa e de cidade, de uma energia elétrica que não vem da corrente nem se explica, não é por Ty Segall. Nome maior da “cena” de São Francisco, é um provocador nato capaz de ir à televisão mascarado ou de gravar um EP de versões dos T-Rex com o título hilariante e oportuno de “Ty Rex”. Regressa ao norte com o magnífico “Emotional Mugger” para incendiar a floresta encantada de Paredes de Coura. Felizmente, costuma chover.