O prodigioso resultado de Emmanuel Macron nas presidenciais e na primeira volta das legislativas francesas não é apreciado da mesma maneira na sociedade francesa. A revista L’Obs observa que os franceses não votaram em massa pelos candidatos da República em Marcha (movimento criado pelo Presidente Emmanuel Macron), que a taxa de abstenção atingiu o número recorde de 50,2%, que o partido do Presidente obteve o mais baixo apoio de sempre numas eleições legislativas, imediatamente a seguir às presidenciais: Mitterrand alcançou, nas legislativas que abriram os seus dois mandatos, 54% e 37%; Jacques Chirac, 43%; Nicolas Sarkozy 45,6%; e os apoiantes do novo Presidente apenas somaram 32,2%.
Já segundo as projeções das sondagens, citadas pelo Le Monde, o movimento República em Marcha poderá obter entre 400 a 455 deputados na segunda volta das eleições que se realizam no próximo domingo, ou seja, uma larga maioria num parlamento com 577 lugares.
Caso se confirmem estes números, que permitem a Macron e aos seus aliados terem um apoio parlamentar que ultrapassa em muito a maioria absoluta, será fácil ao novo governo aprovar a maior parte das medidas propostas, entre as quais se contam as reformas das leis laborais e da Segurança Social contestadas pelos sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda. Desde 1985, altura em que houve greves gerais e saíram à rua milhões de pessoas, que a contestação social tem impedido que este tipo de reformas de pendor neoliberal sejam introduzidas em França. Mas do ponto de vista parlamentar, com a redução do partido socialista a uma sombra do que foi, isto pode mudar rapidamente.
«É por isso que é necessário, que no próximo domingo, todos os eleitores que valorizam o pluralismo democrático e a proteção social elejam deputados de esquerda: trata-se de impedir que uma lógica de desregulação liberal se imponha em detrimento dos assalariados e precários pelas mãos de uma maioria tão esmagadora que se torne cega às realidades do país», escrevia no Libération de 13 de junho o antiga ministra da Educação socialista e candidata às legislativas Najat Vallaud-Belkacem.
A esquerda foi vítima de um sistema eleitoral criado pelo general Charles de Gaulle para dificultar a eleição de deputados comunistas, e que funciona neste momento para impedir a eleição de deputados de esquerda e da Frente Nacional: os cerca de 32% de votos do partido do Presidente devem garantir-lhe a eleição de 400 deputados na segunda volta, no próximo domingo, os mesmos cerca de 27% de votos atingidos pela soma das forças de esquerda – 11% para Frente de Esquerda de Mélenchon, 10,5% para os socialistas, 3,8% para os comunistas, e quase o mesmo para os verdes – devem-lhes assegurar menos de 40 eleitos, ou seja um décimo dos do partido do Presidente. O mesmo se passa com os 13% da Frente Nacional, que na pior das hipóteses poderá ficar com um deputado, e na melhor das previsões com cinco.
Apesar destas agruras devido ao sistema eleitoral francês, a verdade é que depois de domingo, Emannuel Macron terá conseguido, com os seus aliados, alterar profundamente o sistema político francês, em que dos partidos tradicionais só vão sobreviver com um número razoável de eleitos, os Republicanos, com 50 a 110 deputados.
A esquerda, socialistas e Frente de Esquerda com comunistas, terá um número de deputados inferior a 50 eleitos, necessitando de se refundar para sobreviver.
A confirmarem-se as sondagens, Macron terá a maior maioria parlamentar de um Presidente desde 1958, data de nascimento da V República.