Chegou finalmente ao fim o alongado período eleitoral francês, passados quase dois meses da primeira mão das presidenciais – já nem incluímos nesta contagem as primárias da direita (novembro) ou da esquerda (janeiro) – e o ex-desconhecido Emmanuel Macron bem pode apregoar para quem o quiser ouvir: missão cumprida!
Este domingo, na derradeira ronda das eleições legislativas francesas, o recém-criado partido do presidente, aliado com os centristas do MoDem, confirmou os sinais positivos trazidos da eleição de domingo da semana passada e conseguiu ultrapassar os 289 deputados necessários para lograr uma maioria parlamentar.
De acordo com as estimativas publicadas pela Ipsos/Sopra Steria, o La République en Marche! (LREM) conseguiu eleger 361 deputados, colocando-se bem acima do segundo partido mais votado: Os Republicanos, com 126 eleitos. O Partido Socialista e seus aliados (46), a França Insubmissa, coligada com os comunistas (26), e a Frente Nacional (8), completam a lista, de acordo com a mesma sondagem. Outros 10 deputados terão sido eleitos pelos restantes partidos.
A vitória do LREM confirma, então, uma verdadeira alteração da paisagem política na Assembleia Nacional, colocando os partidos tradicionais numa situação inédita de subrepresentação parlamentar. A confirmarem-se as projeções, França depara-se com uma renovação inédita de 60% dos lugares do parlamento, apenas comparada com o verificado em 1958, o ano de aprovação de uma nova Constituição e do nascimento da atual V República.
O triunfo de Macron é inegável e permitir-lhe-á por em marcha as reformas político-económicas apregoadas em campanha como, por exemplo, reduzir do número de funcionários públicos, poupar 60 mil milhões de euros em orçamento, nos próximos cinco anos, ou liberalizar o mercado de trabalho. Mas por cima da cabeça do novo presidente e das centenas de deputados eleitos, com pouca ou nenhuma experiência política, volta a pairar a nuvem negra da abstenção. Tal como verificado na primeira volta, a eleição de ontem voltou a contar com níveis baixíssimos de participação, com as estimativas a apontarem para um recorde negativo de 57% de abstenção. Uma realidade que já tinha motivado lamentos, junto da oposição, contra a nova assembleia “monolítica” e cenários de legitimidade beliscada da nova maioria parlamentar. “Macron não tem legitimidade para destruir os direitos dos trabalhadores”, defendeu Jean-Luc Mélenchon, citado pela France 24.
As projeções da eleição deste domingo sugerem a eleição do próprio Mélenchon, o rosto da esquerda radical, mas também da líder da extrema-direita, Marine Le Pen. Duas conquistas que, confirmando-se, vão seguramente oferecer mais algum fôlego aos extremos políticos representados no parlamento francês, indo para além da representação real, reduzida, que ambos os movimentos terão.
E se do lado d’Os Republicanos a promessa é a de assumir a responsabilidade da sua posição de maior partido de oposição, do lado dos socialistas o cenário é devastador. Depois de cinco anos como partido mais representado na Assembleia Nacional, o PSF aponta a uns insignificantes 46 deputados, apenas logrados com a ajuda de partidos aliados. A confirmação da debacle socialista levou mesmo à apresentação de um pedido de demissão, por parte do seu secretário-geral, Jean-Christophe Cambadélis.