V árias crianças e jovens do 2.º, 5.º e 8.º anos vão passar quatro semanas em testes e provas de aferição. Os meninos do segundo ano, por exemplo, vão fazer um total de oito testes em cerca de 17 dias. E os alunos do 5.º e 8.º anos terão uma carga superior.
Se as provas de aferição visam monitorizar o desempenho do sistema, parecem tornar-se contraproducentes quando os papéis se invertem e a avaliação passa a ser quase o objetivo do ensino.
Para que alunos, professores e escola fiquem bem na fotografia, os anos letivos passam-se muitas vezes dentro de salas de aula monótonas, sem originalidade e flexibilidade onde se debita matéria. Os professores têm pouco espaço de manobra para jogar com o extenso programa que têm em mãos, ainda mais com a avaliação que sabem que já não é só dos alunos, mas deles próprios, e muitos caem no erro de se render ao sistema e dar a matéria sob pressão, sem suscitar ou responder à curiosidade dos alunos.
Cada vez se usa menos o espaço ao ar livre para explorar, complementar matérias, descobrir outras inesperadas ou brincar e enriquecer relações. Falta espaço para o pensamento, para o corpo, para cada um e para o grupo. A espontaneidade e criatividade não são tidas em conta e muito menos são valorizadas. Cada resposta tem de ser exatamente como se espera ou então é considerada errada – tal como acontece nas provas de aferição –, há pouco espaço para a dúvida ou caminhos alternativos. Até nas disciplinas em que seria de esperar que houvesse maior liberdade, como a expressão plástica a música ou a ginástica, os alunos têm notas negativas porque pintam fora da linha do desenho fotocopiado centenas de vezes ou fazem desenhos mais excêntricos, há aulas de música em que se preenchem fichas ou se ouve rádio e algumas aulas de ginásticas parecem verdadeiras formações na tropa. Assim se mata a individualidade e originalidade que cada criança traz consigo. A escola passa a ser a preto e branco, tal como as fichas que saltam todos os dias da secretária do professor. Malfadadas fotocopiadoras!
As últimas semanas do ano são passadas a dar a matéria que ainda está em falta e a fazer fichas de preparação para as provas. Quando no final do dia as crianças e jovens sedentos de liberdade deixam a escola, trazem às costas o peso de toda esta exigência em extensos trabalhos de casa que mais facilmente lhes irão criar anticorpos do que consolidar o que aprenderam.
Não será redutor pensar que o mais importante a oferecer nesta idade tão fértil é uma enorme carga de matéria colada com cuspo e de que nas férias já ninguém se lembra? Não poderia haver uma seleção deste extenso programa para que as matérias fossem dadas com prazer e de forma mais cativante?
Não precisamos dos resultados das provas de aferição para retirar conclusões sobre a escola. Infelizmente os últimos dias de aulas, em que professores e alunos sob pressão contam os dias para que comecem as férias, dão-nos uma imagem clara do sistema de ensino – e não é a melhor, infelizmente.