A Comissão Europeia está preocupada em mostrar que os fundos da UE têm uma implicação diária na vida dos europeus e estão a ser usados na criação de oportunidades. O objetivo é provar que o dinheiro dos contribuintes está a ser posto ao serviço da criação de emprego e da inclusão social, uma questão cada vez mais prioritária com o aumento dos fluxos migratórios na Europa.
A comissária europeia para a Política Regional, Corina Cretu, acredita que é seu dever justificar o dinheiro, mostrando a forma como está a ser usado e destacando alguns exemplos de sucesso com investimento da UE. Até porque são poucos os que conhecem fundos europeus que tenham beneficiado a zona onde vivem. De acordo com uma sondagem realizada em 2015, apenas um terço dos europeus admitem já ter ouvido falar de um projeto financiado perto de si.
A atual presidência da Comissão Europeia está empenhada em criar uma “sociedade mais igualitária e inclusiva em qualquer ponto da Europa”, sublinhou Corina Cretu. E a ferramenta usada tem sido o Plano de Investimento para a Europa, conhecido como Plano Juncker.
Molenbeek está pronta para mudar
Para a comissária, o espaço Belle-Vue, em Molenbeek, uma comuna de Bruxelas maioritariamente muçulmana, é um exemplo perfeito da utilização de fundos europeus para a promoção do emprego e da inclusão social. O complexo instalado numa antiga fábrica de cerveja, dividido em três segmentos, foi um dos três casos escolhidos pela Comissão Europeia para apresentar a 19 jornalistas de vários países e órgãos de comunicação, entre os quais o i.
O Hotel Belvue, a Molenbeek Formation e o Art2Work juntam a revitalização da herança industrial e histórica do local, a regeneração urbana e a eficiência energética à oportunidade de um futuro profissional para os residentes.
O Belvue, que celebrou agora o seu segundo aniversário, tem três estrelas e 29 quartos. O i ficou alojado num deles, naquele que é o primeiro hotel autossustentável de Bruxelas e que já recebeu mais de 10 mil hóspedes. Situado num bairro que é considerado problemático, o Belvue permite atrair turistas para a zona, contribuindo para mudar a perceção pública.
No mesmo complexo funciona a Molenbeek Formation, que aposta na integração socioprofissional de jovens sem grandes oportunidades de emprego ou com poucas qualificações académicas. Aqui recebem formação sobre indústria hoteleira, adquirindo novas competências que depois podem pôr em prática numa experiência real de trabalho no Hotel Belvue. Cerca de 20% dos formandos são jovens que vivem em Molenbeek.
A antiga fábrica de cerveja acolhe ainda o projeto Art2Work, um centro de formação e de orientação vocacional destinado a apoiar jovens entre os 18 e os 30 anos que não tenham ido além do ensino secundário. O objetivo é juntar estes jovens de diferentes origens, talentos e ambições com empresários do meio mais criativo e artístico, aumentando o nível de empregabilidade do bairro – onde o desemprego jovem pode chegar aos 40% – e promovendo a inclusão social.
Uma segunda oportunidade
A iniciativa da Comissão Europeia para mostrar os bons exemplos passou também por Lille, numa das 116 escolas do projeto 2ème Chance (segunda oportunidade). O projeto assume-se como uma solução para o desemprego jovem e oferece orientação profissional a muitos ex-alunos, entre os 16 e os 25 anos, que abandonaram o ensino dito normal.
Foi o que aconteceu com Victor, um jovem que deixou a escola aos 17 anos, sem grandes perspetivas de emprego, e que passou depois pela escola 2ème Chance de Lille. Atualmente está a trabalhar numa empresa distribuidora de bebidas, com a qual tem um contrato semelhante aos de estágio profissional em Portugal. Prepara as encomendas que seguem depois em camiões para os vários restaurantes, cafés e hotéis da região. Mas o seu objetivo é tornar-se motorista de um desses camiões, motivo pelo qual está receber formação.
Já Marcel, um adolescente austríaco de 17 anos, também deixou a escola muito cedo. Mas, tal como Victor, encontrou um local que lhe deu uma nova oportunidade para entrar no mercado de trabalho, graças ao apoio da escola vocacional de Villach, na Áustria. Mais um projeto cofinanciado por Bruxelas e que a Comissão apresenta como um bom exemplo.
A escola destina-se a jovens até aos 24 anos que tenham abandonado a escola ou tenham necessidades especiais. Conta atualmente com 36 alunos que ali ficam entre três e 12 meses, desenvolvendo competências na utilização de computadores e no trabalho de equipa, ao mesmo tempo que aprendem gestão, gastronomia e carpintaria, além de disciplinas mais generalistas como línguas e matemática.
Marcel é um exemplo de sucesso, mas o jovem também lembra que o caminho nem sempre foi fácil, com muitas regras iniciais a serem postas em causa pelos alunos, como a proibição de telemóveis. Com o tempo, até essa lição se tornou útil, e agora nunca atende o seu telefone na loja de materiais de construção e bricolage onde trabalha.