Sydney Finkelstein é um prestigiado professor americano, com vastíssima obra publicada, que dedicou boa parte da vida ao estudo das causas das falências das empresas: crises económicas, alterações legais ou das regras do negócio, indemnizações, coimas e multas decididas por tribunais, desadaptação tecnológica, má gestão…
No número de janeiro/fevereiro de 2004, do Yvey Business Journal, publicou uma análise interessantíssima sobre as causas das grandes falências que sucederam à queda das Torres Gémeas, concentrando-se naquilo que identificou como ‘pecados dos líderes’: vícios adquiridos em consequência de uma ideia de infalibilidade que conduz a excessos, abusos e erros causadores de vítimas na esfera privada e pública.
Na sua perspetiva, os fazedores do mal do virar do século eram pessoas brilhantes que falharam por não terem resistido ao ímpeto de dirigirem as empresas segundo os seus pessoalíssimos gostos, preferências, preconceitos e impulsos do momento. De abuso em abuso, transformaram em poder pessoal, por natureza discricionário, o poder outorgado pelos acionistas, para ser usado no interesse de todos.
Ensina a História que quem governa os Estados é muitas vezes tentado a esquecer que o faz ‘em nome do povo e no interesse do povo’. Coisa semelhante pode acontecer nas empresas, quando o interesse dos stakeholders é subvertido por uma agenda pessoal alheia aos interesses de quem investiu, confiado no bom critério de quem administra.
Não por acaso, a lei portuguesa acrescenta a palavra ‘social’ à definição da finalidade que justifica a criação de uma empresa: ‘o objeto social da empresa é …’ Em França, o legislador foi mais longe e definiu as empresas como bens públicos, podendo ser levado a tribunal quem lesar os interesses de ‘um património que importa a todos’.
Logo no início do artigo, o autor avança com uma tese que não pode deixar de nos abanar: «a maioria dos grandes destruidores de valor é constituída por pessoas de inteligência e talento fora do comum, que irradiam enorme magnetismo». Simplesmente, a par dos altos atributos, revelam, por vezes, uma característica singular: «transformam num desastre de dimensões gigantescas um problema que não passaria de um fiasco de proporções modestas, se cuidado à luz de raciocínios do senso comum».
Desenvolvendo a ideia, Sidney Finkelstein enumera o que classifica como «os 7 pecados capitais dos homens providenciais»: (1) Assumem-se como protagonistas absolutos; (2) Não estabelecem fronteiras entre os seus interesses e os das empresas; (3) Acreditam que têm resposta para tudo; (4) Eliminam implacavelmente os opositores; (5) Vivem obcecados pela imagem; (6) Subestimam os obstáculos; (7) Teimam em confiar no que funcionou no passado.
Na era do sucesso, os CEO das grandes falências tiveram fotografia na capa das revistas, colecionaram diplomas e acumularam prémios. Depois, as empresas ruíram. Ruíram e arruinaram!
É caso para perguntar: alguém terá usado a grelha do senhor Finkelstein para perceber por que razão está mais pobre?