A economia mundial começa a dar sinais de querer entrar em modo de férias. Os mercados exibem pouca atividade e os eventos políticos mais relevantes foram ultrapassados sem grande volatilidade. Em termos de rescaldo, é uma boa altura para fazer um ponto de situação nalguns focos mais prementes.
BCE. Tal como antecipado, Draghi deu o (meio) passo inicial em direção à retirada de estímulos. Confirmou-se a ligeira mudança de linguagem na comunicação oficial da reunião de 8 de junho. Bastará a economia europeia continuar no seu trajeto atual que em setembro haverá indicações específicas sobre o modo como terminará o programa de compra de obrigações.
Rating. Quase em paralelo, tivemos o início do processo que deverá culminar na subida do rating da República portuguesa. A Fitch aproveitou o seu comentário pré-calendarizado de dia 16 de junho para ser a primeira das grandes agências a aumentar a sua perspetiva de estável para positiva – um prelúdio quase obrigatório a uma subida efetiva de rating. Se anteriormente já havia boas hipóteses da subida de rating ocorrer no final deste ano, após esta decisão as probabilidades aumentaram. A boa performance recente das obrigações nacionais é um reflexo disso mesmo.
Petróleo. Preços continuam muito pressionados apesar do anúncio da extensão de cortes de produção por parte da OPEP em maio. Os produtores de shale oil nos EUA continuam a aumentar a sua capacidade e os ganhos de eficiência têm baixado os respetivos preços de breakeven. A administração Trump vê neste setor uma oportunidade para reduzir o défice comercial, daí a vontade em reduzir as restrições ambientais que restringem a indústria. O paradigma do petróleo mudou definitivamente e a OPEP segue em direção à insignificância.
Política europeia e Brexit. A vida de Theresa May ficou mais complicada. A primeira-ministra britânica, que já entrava nas negociações do Brexit com uma mão menos forte que a nova frente franco-alemã, viu a sua capacidade negocial sofrer um duplo revés em ambas as costas do Canal da Mancha. Do lado gaulês, o recém-partido de Macron conquistou uma surpreendente maioria nas legislativas, ganhando o novo Presidente uma forte legitimidade para implementar o seu programa na frente doméstica e externa. Em contraponto, May, tendo forçado eleições numa tentativa de reforçar a sua maioria parlamentar, viu o seu plano gorado e a antiga maioria reduzida a uma coligação instável com o DUP norte-irlandês. O Reino Unido será forçado a fazer ainda mais cedências nas negociações com a UE. O acordo possível poderá começar a ser tão desastroso para os britânicos que, se bem que ainda no campo do improvável, as chances de uma reversão do Brexit aumentaram ligeiramente.
Nota final para as tragédias que todos presenciámos tanto dentro – Pedrógão Grande – como fora de portas – Grenfell Tower. São dois casos demasiado graves para não haver um extenso apuramento de responsabilidades por via de comissões independentes que minimizem o aproveitamento político da questão. Situações chocantes que nos mostram a insignificância de tantas outras coisas. Que não se repitam os mesmos erros no futuro.