Jihadistas de Mossul estão por um fio

Apenas um bairro separa as forças iraquianas do Tigre e da derrocada do Estado Islâmico na sua maior e mais simbólica cidade. Subsistirá em vastos territórios do deserto. 

O fantasmático califado do autoproclamado e outrora dominante Estado Islâmico esvai-se. Mossul, a segunda cidade iraquiana e até há meses a joia da coroa jihadista pela sua riqueza em impostos e simbolismo, está prestes a regressar ao domínio de Bagdad. Ontem, as força antiterrorismo treinadas e apoiadas desde os céus pelos Estados Unidos atacavam o último bairro sob controlo extremista. Na frente das balas e em plena linha de fogo, centenas de residentes aprisionados corriam para fugir à guerra, fome e sede. Muitos estavam feridos e transportavam crianças. Alguns observadores falavam em horas até que a cidade fosse efetivamente libertada. Outros mencionavam poucos dias. O primeiro-ministro iraquiano até já pode ter declarado duas vezes vitória no decorrer das últimas duas semanas – a primeira, quando os jihadistas detonaram a histórica mesquita de al-Nuri onde o seu desaparecido líder proclamou o seu suposto califado; e a segunda quando as suas ruínas foram capturadas -, mas os comandantes das forças antiterrorismo avisavam que nenhuma batalha contra os militantes do Estado Islâmico é fácil. É preciso lembrar que estão dispostos a morrer para matar.

Resta tomar o bairro de Midan. Quando isso acontecer, as forças iraquianas terão chegado às margens do rio Tigre e o Estado Islâmico terá perdido o último e mais importante domínio urbano no Iraque. Ficará reduzido a domínios rurais e às últimas cidades sírias, sobretudo Raqqa, a sua capital burocrática, por estes dias cercada também por forças que, no entanto, têm rivalidades entre si. Os domínios rurais do grupo jihadista, apesar disto, não são irrelevantes. Algumas estimativas defendem que os troços de terreno – sobretudo deserto – que a organização controla entre a fronteira iraquiana e síria equivalem sensivelmente à dimensão da Bélgica. Patrick Cockburn, um dos mais importantes observadores dos conflitos no Médio Oriente, avisa para além disso que o grupo nunca esperou sustentar Mossul e que a sua grande estratégia – como antes em Tikrit ou Baji, por exemplo – foi destacar algumas centenas de combatentes capazes de matar o maior número de militares iraquianos enquanto o resto das forças recuam para outras linhas. E conseguiram-no: morreram mais soldados e agentes iraquianos em Mossul do que em qualquer outra batalha no país, talvez até milhares, embora o número oficial não seja conhecido – ou comprovável.

Mantém-se a importância de reconquistar Mossul. A cidade não foi apenas o local de onde Abu Bakr al-Baghdadi anunciou o grupo no pináculo dos seus triunfos, foi também o mais nítido exemplo da derrocada das forças iraquianas há três anos e onde algumas centenas de militantes venceram um destacamento de dezenas de milhares de soldados com material de ponta americano que acabou nas mãos jihadistas.