Os quatro países que por estes dias impõem ao Qatar um severo bloqueio comercial, territorial e diplomático anunciaram esta segunda-feira que vão dar ao pequeno emirado mais dois dias para cumprir uma lista de 13 exigências que é quase universalmente considerada impossível de satisfazer – mesmo “inadmissível”, nas palavras do ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel. Se o Qatar não obedecer até quarta-feira, os países do bloqueio sugerem que o isolamento temporário se pode tornar permanente e afirmam que podem afastar o país da aliança regional do Conselho de Cooperação do Golfo.
Os olhos voltam-se para o Kuwait, o país que serve hoje de mediador entre os vizinhos do Golfo e onde esta segunda-feira aterrou o ministro dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, levando consigo uma carta escrita à mão pelo seu emir, respondendo às exigências e oferecendo uma posição de diálogo inicial. Esta carta pode revelar-se fundamental para o impasse diplomático na região. Os quatro países do bloqueio – Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Bahrain – vão discuti-la num encontro na quarta-feira, a nova data limite do ultimato – foi o Kuwait que pediu mais dois dias. Só depois decidem os próximos passos.
Doha procura acima de tudo iniciar um diálogo com os países do bloqueio. Mohammed al-Thani já disse que as exigências foram feitas “para serem rejeitadas, não para serem aceites ou negociadas”. Observadores e países desagradados com o desaguisado diplomático concordam e até os Estados Unidos de Donald Trump, que inicialmente pareceram alinhar-se com os aliados sauditas, pedem agora moderação e diálogo. Washington oferece até as suas próprias chaves para acabar com o desentendimento: propõe enviar os seus próprios técnicos de contas para Doha para se certificarem de que o emirado não financia grupos extremistas e sugere fundir a cadeia árabe Al-Jazira sob a administração do canal em inglês.
O bloqueio ainda não feriu o Qatar ao ponto de considerar as exigências mais severas da lista, como, por exemplo, encerrar completamente a estação Al-Jazira, diminuir os laços crescentes com o Irão, expulsar as tropas turcas do país e cortar as ligações com a Irmandade Muçulmana – estas ordens vão muito mais de acordo com as ambições geopolíticas dos quatro países do que propriamente com a ideia de que o bloqueio acontece porque Qatar financia grupos jihadistas, muitas vezes mencionada como a razão principal da crise.
É certo que a Arábia Saudita encerrou a única fronteira terrestre do pequeno emirado e que o país esteja agora de fora das linhas aéreas regionais, mas Teerão e Ancara têm ajudado com remessas de alimentos vitais para um país que importa quase metade do que consome. Os turcos reforçaram o número de tropas no país e, pelo menos por enquanto, o mercado energético do Qatar mantém-se estável, embora alguns bancos internacionais se recusem já negociar na moeda do Qatar, o rial. O sistema bancário do Qatar pode ser o próximo alvo de sanções, mas a catástrofe continua longe do emirado enquanto continuarem a circular navios carregados com o seu precioso gás líquido.