NOS Alive. Cinco mil pessoas erguem cidade para 55 mil

Esgotado há dois meses, o NOS Alive tem agora o desafio de garantir o equilíbrio entre grandeza e conforto. Três dias para despertar o desejo de voltar

Na tragédia do festival de Roskilde, em 2000, quando nove pessoas morreram esmagadas nas grades de proteção durante um concerto dos Pearl Jam, Álvaro Covões notou um pormenor que seria decisivo. “Mais de metade não eram dinamarqueses”, reparou. A amostra não era muito grande, mas foi suficiente para influenciar a estratégia do NOS Alive.

Em dez anos, o festival superou todas as fasquias colocadas à medida do crescimento e evoluiu da dimensão local dos festivais nacionais para uma expressão internacional, com repercussões a vários níveis. Por exemplo, no impacto económico calculado no ano passado de 55 milhões de euros para um investimento de 8,5 milhões de euros nesta edição. Este ano, o número de estrangeiros diminuiu face ao período homólogo, mas a explicação não está na falta de procura. “Os bilhetes esgotaram com antecedência. Não tínhamos mais para vender. Os portugueses não deixaram para a última e compraram cedo”, refere Álvaro Covões em visita guiada e exclusiva ao recinto.

São esperados cerca de 22 mil espetadores de fora. Ingleses e espanhóis são as nacionalidades mais representadas, enquanto os alemães ultrapassaram os franceses no pódio. Dos mais de cem espetáculos, é natural que a fidelidade aos Depeche Mode se expresse numa concentração de massas em frente ao palco NOS, no sábado, que The Weeknd cative o público casuístico dos grandes êxitos do momento e a franja crescente de público que começa a ver saciada a vontade de dar de caras com os grandes vultos da música de expressão negra, e que os Foo Fighters sirvam os desejos de quem transpira só de pensar no volume das guitarras e no músculo da secção rítmica.

Estes são os cabeças-de-cartaz, e depois há uma infinitude de propostas, dos xx aos Imagine Dragons, Phoenix, Alt-J, Cult, Kills, Bonobo, Batida, Jessy Lanza, Floating Points, Avalanches, Spoon, Peaches, curadorias de sangue novo lusitano, fado e comédia, divididos por sete palcos, cada um com o seu cariz.

São cinco mil pessoas a trabalhar para 55 mil pessoas delirarem, o que perfaz uma cidade à parte de uma capital, com 60 mil pessoas num canto à beira-rio plantado. Para Álvaro Covões, o cartaz e o volume de propostas atribuem ao NOS Alive a ordem de grandeza que abre o apetite para voltar no ano seguinte. “Lembro-me sempre da Disneylândia. Vi coisas fantásticas, mas outras tantas ficaram por ver. Tenho de voltar.” Na visão do promotor, a oferta em quantidade é necessária para cativar as pessoas “durante oito horas”, senão “vão-se embora”, diz.

E para sustentar o equilíbrio entre massificação e conforto há três zonas alargadas de restauração – a maior, uma praça entre o Clubbing e o Palco Heineken –, corredores a ligar os palcos e uma zona reservada a grávidas com lugar para o companheiro, “porque é preciso pensar no amanhã”.

Desde 2007, o festival tem-se adaptado às necessidades dos utilizadores. Este ano foi criado um Acãopamento (fora do recinto) para todos aqueles que não tiverem onde deixar os animais de companhia. A relação com os transportes públicos foi reforçada não só com as carreiras especiais da CP durante as três noites, mas também com a Transtejo. Haverá ligações fluviais entre o Cais do Sodré e Cacilhas durante toda a noite. Os portadores de passe terão ainda direito a um desconto na viagem entre Belém e Porto Brandão, para ficarem mais próximos das praias da Costa da Caparica. E foi estabelecida uma parceria com o festival Mad Cool para a criação de um bilhete conjunto para um mesmo cabeça-de- -cartaz: este ano, os Foo Fighters. A ligação obriga ambos os lados a partilhar um nome grande comum, mas Álvaro Covões não se mostra preocupado, já que diz ser “normal acontecer”.

A resposta do público local e internacional, a influência do NOS Alive enquanto festival capaz de atrair alguns dos nomes mais cobiçados e até a dimensão social esmagadora durante os três dias podiam criar a tentação de crescer. Em dez anos, o recinto esticou, mas já não pode crescer mais, confirma Covões. Pelo menos para fora, já que, dentro de portas, o festival ficou cada vez maior. “A sustentabilidade está garantida. Não queremos crescer. Há um momento em que é necessário saber parar.”

Dez anos depois, a máquina está oleada e afinada para que nada falte durante os três dias. Os concertos são o coração e as pessoas o pulmão de um festival onde o que se passa em Algés não fica só em Algés.

Informação útil:

Espetáculos

Mais de cem, 121 no total, divididos por sete palcos, espalhados ao longo do recinto. O cartaz internacional está nos palcos NOS, Heineken e Clubbing. Neste último há concertos e DJ sets. No palco EDP Fado Café há fadistas. No Coreto, a curadoria da agência Arruada quer mostrar o que de mais fresco se anda a fazer na música portuguesa. No Pórtico há DJ e bandas a dar as boas-vindas ao público e o Palco Comédia Stage é para sentar e fazer rir.

Horários

De amanhã a sábado das 17h00 às 04h00.

Transportes

Horários alargados nos comboios da CP, entre as 02h15 e as 05h15 na ligação com o Cais do Sodré e entre as 02h15 e as 04h30 na carreira para Cascais. Todos os dias sai um comboio de Santa Apolónia às 03h45 em direção a Campanhã (Porto), com paragem nas estações habituais. Na Transtejo há barcos adicionais entre Cacilhas e o Cais do Sodré às 03h00, 03h30 e 04h00. Os portadores de bilhete têm acesso a desconto na viagem entre Belém e Porto Brandão. A Cabify terá um ponto de chegada e recolha junto ao recinto.

Estacionamento

O Alegro Alfragide disponibiliza lugares de estacionamento exclusivos para portadores de bilhete. De 30 em 30 minutos, entre as 16h00 e as 03h00, há autocarros a sair.

Alojamento

Por 17 euros, os portadores de bilhete podem montar a tenda no Lisboa Camping & Bungalow, situado em Monsanto.

Objetos não permitidos

Canivetes, qualquer tipo de arma, correntes, cintos e/ou pulseiras pontiagudas; garrafas de plástico com tampa, bebidas alcoólicas e caixas com comida; máquinas fotográficas e câmaras de vídeo profissionais; gravadores de áudio; animais, capacetes, stick GoPro/selfie stick; objetos de vidro (garrafas, perfumes); qualquer objeto de arremesso.