O advogado Pedro Bourbon, que é suspeito de autoria moral do rapto mortal de Braga, remeteu-se ontem ao silêncio, no Tribunal de Instrução Criminal do Porto, depois de em dois depoimentos anteriores ter acusado os seus dois irmãos – o advogado Manuel e o economista Adolfo – de envolvimento nos crimes de sequestro e de homicídio de um empresário da construção civil de Braga.
Como ambos os interrogatórios foram considerados nulos – por terem sido prestados na ausência dos outros arguidos – ficou sem efeito a imputação de Pedro Bourbon aos seus irmãos, assim como ao seu amigo e compadre, Emanuel Marques Paulino, o “Bruxo da Areosa”, a quem o advogado bracarense também tinha imputado a autoria desses crimes e ao mesmo tempo que negou sempre qualquer envolvimento no caso, fosse em termos materiais ou morais.
O advogado Pedro Grancho Bourbon, recorde-se, era secretário-geral e vice-presidente do Partido Democrático Republicano (PDR), liderado por António Marinho e Pinto, até à sua detenção, em maio do ano passado, numa grande operação da Polícia Judiciária.
O outro arguido ontem interrogado, Filipe Leitão, reiterou estar inocente neste caso, refutando a acusação de crime de furto qualificado ao supostamente ter fornecido o código dos alarmes da empresa onde trabalha, a C. Santos, no Porto, para que fossem furtados os quatro Mercedes utilizados nos crimes que vitimaram o empresário de Braga João Paulo Fernandes, que foi sequestrado em frente da sua filha, então com oito anos, à porta da garagem, situada na Avenida António Palha, em Lamaçães, Braga, ao princípio da noite de 11 de Março de 2016.
Filipe Leitão salientou à juíza, Isabel Ramos, que não foi “despedido” da sua empresa, antes pelo contrário “promovido” com a sua transferência para outra firma do mesmo grupo do ramo automóvel.
O debate instrutório ficou marcado para os próximos dias 12 e 13 de julho, seguindo-se em outra data a leitura da decisão instrutória, após o que se procederá ainda ao envio do processo para o Tribunal de São João Novo, que deverá começar o julgamento logo nos primeiros dias de setembro, logo depois das férias judiciais de verão.
A motivação dos crimes terá sido a disputa pelo avultado património imobiliário dos pais da vítima, avaliado em cerca de dois milhões de euros, tendo o caso originado já um livro, “Bourbons e Bruxo, Crime Bárbaro e Inédito em Portugal”, que relata o caso.
“Arrependido” já tem novo advogado
Entretanto, o advogado Pedro Miguel Branco passou a defender desde a manhã desta terça-feira o arguido Hélder Moreira, único “arrependido” do caso processo do rapto mortal de Braga.
Pedro Miguel Branco, advogado com escritório em Vila Nova de Gaia, substituiu assim o penalista portuense Luiz Vaz Teixeira, que esta segunda-feira renunciou à defesa do arguido Hélder Moreira, contabilista e mediador de seguros de Rio Tinto, Gondomar, em prisão preventiva por acusação de envolvimento no sequestro e assassínio de um empresário de Braga, João Paulo de Araújo Fernandes, de 41 anos, cujo cadáver terá sido dissolvido num bidão de ácido sulfúrico, um método utilizado pela mafia calabresa.
Curiosamente, Pedro Miguel Branco tem escritório de advocacia no mesmo edifício de um outro arguido, também advogado de profissão, Nuno Pinto Lourenço, acusado de ter apoiado o grupo e que se encontra em liberdade provisória, tendo sido ontem este o único arguido a não comparecer no Tribunal de Instrução Criminal do Porto.