Considerações em redor do vídeo-árbitro

A Taça das Confederações, disputada recentemente na Rússia, levantou uma onda de dúvidas em relação ao novo mecanismo.

Basicamente não correu grande coisa a implementação do vídeo-árbitro na Taça das Confederações. Os erros foram muitos e as confusões ainda mais. Além de que  algo tão óbvio como acrescentar tempo de compensação por cada intervenção do novo método foi completamente esquecido e o facto é que nenhuma das interrupções durou menos do que minuto a minuto e meio.

Talvez o lance marcante da final entre a Alemanha e o Chile, quando o árbitro e os seus conselheiros dos audiovisuais resolveram prestar atenção a um lance ocorrido junto à linha lateral do meio-campo chileno, tenha ficado como exemplo maior da inutilidade da medida. A decisão de mostrar apenas o cartão amarelo ao jogador sul-americano quando a agressão (cotovelada) foi tão evidente que entrou pelos olhos dentro, desacreditou por completo o recurso às imagens gravadas. Tornou-se óbvio aquilo que muitos parecem querer tapar com uma peneira, convencidos de que ela impede a passagem dos raios de sol. A decisão, com recurso a vídeo ou não, é sempre de um homem, ou neste caso vários. Ou seja, o fator erro humano, ou no pior dos casos, erro intencional, não se torna descartável.

A bondade das escolhas arbitrais continuará a ser posta em causa, e mais ainda: os vídeo-árbitros tornar-se-ão não apenas motivo de desconfiança como, igualmente, motivo de discussão permanente. A única vantagem real que sugere é a de que os erros passam a ser responsabilidade de mais gente, tirando das costas do árbitro principal o peso da culpa única e definitiva. Tal como já acontece com outra intervenção peregrina dos dirigentes da arbitragem internacional, os árbitros de baliza, que parecem estar ali para verem o menos possível.

A UEFA, através do seu presidente, já veio a público recusar o vídeo-árbitro nas competições por si organizadas. Até porque, como é óbvio, os custos das operações vão disparar fortemente. E, como tal, entramos por  outro campo de injustiça: os campeonatos mais pobres, os clubes com menos condições, viverão num universo diferente dos mais ricos. Quantas câmaras serão postas, por exemplo, ao serviço do vídeo-árbitro em campos como o do Desportivo das Aves? Será a atuação da (agora gigantesca) equipa de  arbitragem fornecida com meios idênticos aos que existem na Luz, em Alvalade ou no Dragão? A resposta é simples, não é?

A Taça das Confederações trouxe à colação outra injustiça evidente. Nos lances interrompidos pelo(s) árbitro(s) em movimento óbvio de fora-de-jogo é fácil anular o movimento e devolver a situação ao seu início. Mas quando acontece o contrário? Um movimento interrompido por uma decisão arbitral em cuja repetição se vê que o jogador saiu do seu próprio meio-campo e foi erradamente castigado? Depois da decisão tomada não há como voltar atrás e regressar ao momento em que o erro foi cometido.

O vídeo-árbitro está em permanente inspeção até 2018, fim do seu período experimental. É de apostar que, até  lá, continuará a ser motivo de tranquibérnias infinitas.