Esta é uma das melhores alturas do ano: estamos quase de férias. Os mais pequenos começam a fazer as suas malas cheias de brinquedos e livros para os quais não olharam o ano todo mas que agora se tornam imprescindíveis.
Desde pequena que fazia contagens decrescentes para tudo o que mais ansiava: em primeiro lugar o meu aniversário e depois o Natal e as férias. Era uma saborosa espera que misturava a vontade de riscar todos os dias de uma só vez, com a de adiar o grande dia. Estas folhas cheias de desenhos, números e quadradinhos, além do prazer que dão a fazer, da noção do tempo que oferecem e de evitarem bombardeamentos de «Quanto tempo falta?», ajudam a que a espera possa ser entusiasmante e prazerosa, em vez de desesperante.
Infelizmente o ‘esperar’ está a cair em desuso e é cada vez mais difícil de tolerar. Coisas tão simples como o ver televisão transformaram-se. Graças às boxes que permitem gravações, já quase ninguém assiste ao longo período de anúncios que divide um programa ou espera com ansiedade o novo episódio.
As crianças reagem com incredulidade o facto de no rádio do carro não se poder andar para trás ou para a frente. Em situações em que é inevitável a espera surgem: «O quê? O que vou fazer até ser a minha vez? Tens aí o telemóvel?», «Falta meia hora para o filme?! E agora?». E tem de se arranjar sempre qualquer coisa. Como se fosse impossível estarmos connosco. À espera sozinhos, ou em conjunto.
As esperas podiam ser ótimos momentos para pensar, para imaginar, para conversar, para brincar… É assustador assistir a almoços de família em que os mais pequenos estão hipnotizados, entregues a telemóveis, ipods e tablets enquanto os mais velhos conversam. Já há mesmo alguns restaurantes de fast food apetrechados com aparelhos que deixam toda a família descansada. E separada…
No mesmo sentido, alguns carros têm pequenas televisões como as dos aviões, para que as longas viagens não se tornem custosas para cada pequeno viajante. E também para os mais crescidos.
Aqui confesso que sou capaz de sentir alguma tentação. Lembro-me das intermináveis viagens para o Algarve quando ainda não existia a bem vinda A2. Avizinhava-se sempre uma verdadeira tortura. Mas eu e a minha irmã lá nos entretínhamos a inventar jogos improváveis, a contar histórias assustadoras, a ouvir música, ou simplesmente a ver a paisagem e a pensar na vida. Julgo que este tempo em que estávamos obrigatoriamente confinadas àquele espaço acabava por ser especial e até nos aproximava. Agora, já na A2 e no lugar da frente, tento fazer o mesmo.
Parece-me que é exatamente este receio e negação do vazio e a necessidade e facilidade de o preencher, por exemplo, com aparelhos de fácil distração, que ocupam a cabeça sem deixar lugar para o que podemos nós criar, que são extremamente perigosos.
Tomam o lugar do que é mais rico em nós e matam a virtude não só de saber esperar, mas de ter prazer na espera.