É até ao momento a grande contratação do mercado português nesta janela de transferências. Não tem um nome sonante, nem sequer é uma cara conhecida dos grandes palcos do futebol internacional, mas nem por isso o Sporting se coibiu de pagar 8,5 milhões de euros (mais cinco variáveis) à Sampdória pelo seu concurso – nem tão pouco de o blindar com a maior cláusula de rescisão de sempre em Portugal: 100 milhões de euros!
Bruno Fernandes, assim se chama o projeto de craque, tem 22 anos e uma trajetória incomum. Fez todo o percurso de formação no Boavista, mas aos 18 anos (acabados de fazer) decidiu arriscar e tentar a sua sorte noutras latitudes. Rumou a Itália, tendo como destino a equipa de sub-21 do Novara, um clube antigo mas sem expressão no escalão maior do futebol transalpino. E deu nas vistas: tanto, que a meio da temporada já era presença indiscutível na equipa principal, então a lutar pela subida à Serie A. Findo 2012/13, a Udinese não quis esperar mais e, por 2 milhões e meio de euros, assegurou os seus serviços. Após três anos a brilhar ao lado da lenda Di Natale, optou por mudar de ares: foi para Génova, assinando pela mais altiva Sampdória a troco de seis milhões de euros. Os 35 jogos (e cinco golos) na Samp, aliados ao percurso nas seleções jovens de Portugal – foi, por exemplo, o capitão dos super sub-21 de Rui Jorge nos últimos dois anos –, chegaram para convencer Bruno de Carvalho a abrir os cordões à bolsa e agarrar uma das maiores promessas nacionais precisamente na altura da carreira em que já está a passar esse limbo e a ter de mostrar que, mais que uma promessa, é uma certeza.
Do sonho ao pesadelo em madrid
Bruno Fernandes é um caso de sucesso de um jovem corajoso, cuja decisão de largar o país em tenra idade para tentar a progressão de carreira lá longe resultou em pleno. E está longe de ser o único: nas últimas três décadas, houve centenas de futebolistas portugueses a tentar o mesmo. Muitos conseguiram-no, com igual ou até maior sucesso, regressando a Portugal de forma triunfal ou construindo uma carreira de alto nível no estrangeiro. Muitos outros, todavia, acabaram por se perder em oceanos de promessas não cumpridas, apostas técnicas indesejadas ou simplesmente mares de erros próprios que dizimaram aspirações superiores.
Pode dizer-se que o primeiro caso de uma tentativa de sucesso precoce no estrangeiro foi protagonizado por João Vieira Pinto. Precoce, de resto, talvez seja a palavra que melhor caracteriza o antigo “Menino de Ouro”: aos 16 anos, já era casado e pai de um menino (Tiago Pinto, que seguiria também a carreira de futebolista), e pouco tempo depois seria uma das figuras da equipa que se sagrou campeã mundial de sub-20 em Riade, em 1989. Por essa altura já despontava nos seniores do Boavista e despertou a cobiça do Atlético de Madrid, onde Paulo Futre era já rei e senhor. Seguiu para a capital espanhola, rumo à equipa B dos colchoneros, mas não se adaptou e tudo fez para voltar ao Bessa logo no ano seguinte. Ficou o trauma, que fez com que um dos mais geniais jogadores da história do futebol português nunca mais tenha voltado a emigrar, optando por passear o enorme talento em Portugal durante os 17 anos seguintes de carreira, até pendurar as botas no Braga, em 2007/08.
Começou aí a odisseia de meninos lusos a deixar o país em tenra idade, na esperança de singrar nos maiores palcos do futebol mundial. E, durante a década de 90, sempre com Madrid como destino preferencial: Zeferino e Tinaia abriram as hostilidades ainda na pré-adolescência, deixando as camadas jovens do FC Porto para se juntar ao todo-poderoso Real Madrid, num negócio intermediado pelo empresário Manuel Barbosa – o primeiro “agente FIFA” do futebol mundial. Nunca foram além da equipa B e, após passagens esquecidas por clubes de segunda, regressaram a Portugal ambos ainda a entrar na casa dos 20 anos e rumo ao mesmo clube: Alverca. Três temporadas na I Liga pelo clube ribatejano acabariam por se revelar o ponto alto de ambas as carreiras.
Dois casos de insucesso que não chegaram para ceifar os sonhos de mais uma mão-cheia. Em 1996, com 17 anos, Filipe Cândido deixou os juniores do Sporting e assinou pelo Real Madrid, mas rapidamente regressou a Portugal, cedido ao Vitória de Setúbal. Fez mais duas temporadas na I Liga, ao serviço do Salgueiros e desapareceu do mapa.
Aos 21 anos, e numa altura em que era coqueluche no Benfica, Edgar recebeu igualmente um convite do Real e nem pestanejou: assinou de pronto. Tão rápido como a decisão dos merengues de o emprestar ao Málaga, onde acabaria por passar praticamente o resto da carreira. Regressou a Portugal aos 30 anos, para representar o Boavista, e deixou de jogar pouco depois.
Também Carlitos pode gabar-se de ter assinado um contrato de quatro anos com o Real Madrid. «Tudo aconteceu porque o meu empresário, o Manuel Barbosa, tinha boas relações com o Real Madrid. Claro que, para um menino de 18 anos acabados de fazer, poder saltar do Gil Vicente para o Real Madrid era uma coisa fantástica! Mas não estava preparado. Eu sou uma pessoa muito agarrada às raízes, e de repente ter de abandonar tudo e ir sozinho para Madrid… Na altura não havia Facebook nem Instagram, era muito complicado falar com a família, os amigos. A minha vida lá era só treino e hotel. Por muito que fosse o Real Madrid, e que o contrato fosse bastante vantajoso, foi um choque tremendo. Ao fim de seis meses pedi para ir embora! Hoje provavelmente faria as coisas de outra forma, mas na altura não pensava assim», explica o antigo extremo ao b,i., assumindo ainda ter sido posto de parte pelos colegas por ser estrangeiro: «Os espanhóis tinham uma mentalidade muito fechada. Não davam confiança a quem vinha de fora, era muito ‘nós é que somos os bons’. Ficavam lá juntinhos e deixavam-nos a um canto». Sem censurar a opção dos miúdos de hoje em dia, que como ele ficam ‘iludidos’ com a perspetiva de jogar num clube grande do futebol europeu e/ou realizar um bom contrato, Carlitos lembra porém que é preciso ponderar muito bem antes de arriscar apostar no desconhecido.
E dá outro exemplo da sua carreira. «Quando estava nos juniores do Gil Vicente, tive a oportunidade de ir para o Benfica e recusei. Foi o melhor que fiz, porque naquela altura ser júnior no Benfica abria muito poucas perspetivas para o futuro. No Gil Vicente rapidamente subi à primeira equipa e pude mostrar as minhas qualidades», sentencia o homem que acabou por realizar apenas três jogos pela equipa B do Real Madrid. Até ao fim do contrato, foi cedido a Braga, Estrela da Amadora e Gil Vicente até assinar em definitivo pelo Benfica.
Ao mesmo tempo, o outro grande de Madrid tentava igualmente pescar trutas lusas. Em 1999, um imberbe Luís Filipe (20 anos) aterrava na capital espanhola rumo à equipa B do Atlético, depois de um ano a dar nas vistas na Académica. Também não resultou. «Os tempos eram outros. Hoje é muito mais fácil para um jovem português singrar no estrangeiro, porque é visto de outra forma, tem outro estatuto. Além disso, atualmente os clubes pensam de outra maneira, apostam para tirar rentabilidade. Antigamente não pensavam assim: se o jogador não correspondia logo à primeira oportunidade, fosse por que motivo fosse, não tinham problemas em encostá-lo e era o próprio jogador que tinha de procurar soluções para não estagnar na carreira. O jogador era um pouco abandonado à sua sorte. Hoje tentam apostar mais, forçam até em muitas ocasiões.
O futebol hoje é um negócio, na altura os valores envolvidos não tinham a dimensão de agora. Quando cheguei ao Atlético, puseram-me na equipa B e em Espanha, pelo menos naquela altura, os estrangeiros eram vistos de lado: o pensamento deles era ‘este vem para aqui tirar o lugar a um jovem espanhol’. Fui completamente posto de parte, e quando me tentava aproximar havia logo um entrave qualquer. Joguei pouco, não me adaptei e o meu pensamento na altura não passava pela parte financeira: eu queria era jogar e crescer como futebolista. Por isso, passados quatro meses pedi para sair: emprestaram-me ao Braga por um ano e meio.
Não podia ter corrido melhor: no fim do empréstimo assinei pelo Sporting», lembra ao b,i. aquele que foi o autor do primeiro golo no novo Estádio Alvalade, no célebre 3-1 ao Manchester United que marcaria também o adeus de Cristiano Ronaldo aos leões. Ainda assim, Luís Filipe não se arrepende da opção que tomou na altura, ao mesmo tempo que garante compreender as razões que cada vez mais levam os jovens a tomar semelhante rumo: «Se calhar devia ter esperado mais para ir para o estrangeiro, cimentado mais a carreira em Portugal. Mas também crescemos e aprendemos quando as coisas correm mal, e essa fase da minha carreira foi muito importante para o futuro. Percebo quem decide da mesma forma: os clubes portugueses não conseguem competir a nível financeiro com os grandes clubes da Europa e por outro lado, em Portugal, a aposta nos jogadores da formação não é muito sólida – embora agora esteja a melhorar».
Mas os colchoneros tinham mais cartas na manga: para a primeira equipa, com estatuto de estrela, chegou Hugo Leal, que para isso teve de criar um braço-de-ferro com o Benfica que se arrastou anos e anos nos tribunais. No Atlético, o médio, então com 19 anos e visto como uma promessa planetária (foi o mais jovem de sempre a estrear-se pelo Benfica, com 16 anos), jogou bastante, mas a incrível descida à II Liga acabaria por marcar o início do declínio. Mudou-se em 2001/02 para o PSG e três épocas depois, com apenas 24 anos, regressou a Portugal para jogar no FC Porto e tentar relançar a carreira. Não resultou. Acabaria por se tornar num saltimbanco do futebol português (Académica, Braga, Belenenses, Trofense, V. Setúbal e Estoril, com uma passagem pelos espanhóis do Salamanca), encerrando a carreira aos 32 anos e já afundado no esquecimento coletivo.
Madrid não foi, todavia, o único destino escolhido nesta fase. Em 1997, Bruno Caires, então com 21 anos e já na
hierarquia de capitães do Benfica, pediu para sair e assinou pelo Celta de Vigo – voltaria a Portugal em 2000/01 para o Sporting, onde fez escassas duas aparições, afundando-se depois nas divisões inferiores até acabar a carreira com 28 anos. Com 17 anos, e um percurso marcante nas seleções jovens, Edgar Caseiro forçou a saída do Benfica seduzido por uma proposta do Valência; assinou, entrou numa espiral de empréstimos que em nada o beneficiaram e voltou a Portugal sem honra nem glória para, com 23 anos, jogar no Maia. Dois anos depois, mudou-se para o Luxemburgo e desistiu do futebol. Bakero aguentou mais – só se retirou há dois anos, já com 37 primaveras –, mas o percurso em Espanha foi semelhante: igualmente nulo. Aos 21 anos, e já com três como profissional (dois no Felgueiras e um no Leiria, este já na I Liga), assinou pelo Sevilha. Fez um jogo, foi emprestado ao Marítimo e ao Braga e encetou aí um percurso descendente que o levou inclusive às divisões distritais.
É possível sorrir em espanha
Mas calma: também houve casos de sucesso. Como o de Makukula, que com 19 anos deixou Guimarães rumo às divisões secundárias de Espanha (Leganés), rebentou no Salamanca e passou pelo Sevilha antes de voltar a Portugal, assinar pelo Benfica e representar a Seleção nacional. Ou Silas, que saltou dos escalões secundários de Espanha para o Leiria de Mourinho. «Fui para Espanha com 21 anos. Estava na II divisão B, no Atlético, que na altura não tinha perspetivas de subir à II Liga. Ganhava 12 contos – ainda não havia euros naquela altura –, que depois passaram para 200 e depois para 500. Então, o meu empresário, Jorge Manuel Mendes, apresentou-me uma proposta do Ceuta, que estava na II B espanhola e me oferecia 3 mil euros por mês! Eu venho de famílias humildes e aquele valor era muito importante.
Além disso, já tinha estado a treinar à experiência no Campomaiorense e no Salgueiros e nos dois lados tinham-me dito que não estava ainda preparado para jogar na I Liga. Por essa razão, achei que não ia conseguir progredir na carreira jogando em Portugal, e por isso aceitei ir para Espanha. Custou nos primeiros dias, mas depois fiz grandes amizades, que duram até hoje», salienta o ex-médio, garantindo que a exigência máxima que se verifica em Espanha para com os jogadores estrangeiros só o beneficiou: «Obrigou-me a estar sempre no limite, a dar sempre o máximo. Na última época marquei 18 golos! E aí surgiu o convite do José Mourinho, que me conhecia do tempo que passou em Espanha. Quis-me de maneira inequívoca, por isso voltei para jogar no Leiria».
Sem nunca ter voltado à base, Duda e Pauleta acabaram por fazer uma brilhante trajetória. O primeiro, formado no V. Guimarães, foi para Cádiz com 19 anos e passou quase toda a carreira no Málaga, com um assinalável interregno de dois anos no Sevilha, onde venceu uma Taça UEFA. Foi internacional A, representando Portugal no Mundial 2010. O segundo foi aos 23 anos para o Salamanca, depois de anos perdido em equipas açorianas – e uma época a faturar no Estoril, na II Liga –, e partiu aí para uma carreira recheada de glória a nível coletivo e individual: até há pouco tempo era ainda o melhor marcador de sempre do PSG e da Seleção nacional, tendo sido recentemente ultrapassado por Zlatan Ibrahimovic e Cristiano Ronaldo.
Nos anos mais recentes, o fluxo de jovens portugueses para Espanha nunca parou. Também aqui com pouco sucesso: Edgar Ié e Agostinho Cá não deixaram marca no Barcelona (o primeiro reabilitou a carreira agora no Belenenses, conseguindo uma transferência para o Lille, enquanto o segundo está a jogar… na Lituânia); Salvador Agra falhou no Bétis, Rúben Vezo foi de mais a menos no Valência e no Celta de Vigo ninguém se lembra que por lá passou um tal de Daniel Fernandes – que mais tarde viria a tornar-se internacional A pela mão de Scolari. João Moreira, grande promessa do ataque nacional em 2004, assinou pelo Valência mas nunca lá jogou, tal como Xeka em 2011/12; André André passou incógnito pela Corunha, voltou ao seu Varzim e só depois de se assumir como indispensável no V. Guimarães de Rui Vitória chegou ao FC Porto; Hélio Pinto foi para o Sevilha B e daí seguiu diretamente para Chipre, onde fez a grande parte da carreira. E depois há Júlio Alves: o irmão mais novo de Bruno Alves, contratado aos 21 anos pelo Atlético de Madrid, nem chegou a pisar solo espanhol – foi de imediato cedido ao Besiktas. Um ano depois estava na equipa B do Sporting, onde raramente foi opção; seguiu-se o regresso ao seu Rio Ave… e três épocas consecutivas sem clube. Muito estranho, o ocaso de um antigo vice-campeão mundial de sub-20.
No pólo positivo estão os casos de Pizzi, Ricardo Horta, João Cancelo ou André Moreira, que foi diretamente do Ribeirão para o Atlético de Madrid com 18 anos. Nunca chegou a jogar pelos colchoneros, é um facto, mas as qualidades evidenciadas nas cedências a clubes portugueses e nos escalões jovens das seleções nacionais convenceram o Benfica, onde vai jogar na próxima temporada.
dominguez abriu as portas da premier
Cronologicamente, o primeiro caso de verdadeiro sucesso terá sido o de José Dominguez. Formado no Benfica, passou por empréstimos a Sintrense e Fafe até que surgiu um convite inusitado: o Birmingham, que se encontrava na segunda divisão inglesa. A semanas de fazer 20 anos, o pequeno extremo aceitou o repto e partiu de armas e bagagens. Voltaria em grande: tal como aconteceu agora com Bruno Fernandes, o Sporting reconheceu enorme potencial no jovem internacional luso e patrocinou o seu regresso a casa. Duas épocas de sucesso de leão ao peito proporcionaram-lhe novo salto para Inglaterra, agora para o Tottenham, onde mostrou a sua utilidade durante quatro temporadas.
Estavam abertas as portas do mercado inglês, e houve quem aproveitasse. Com apenas 20 anos, e depois de dar nas vistas num torneio de Toulon, Boa Morte assinou pelo Arsenal – a primeira contratação de Arsène Wenger enquanto técnico dos Gunners – sem nunca ter jogado na equipa principal do Sporting. Sagrou-se campeão, fez nome e é ainda hoje o português com mais temporadas disputadas na Premier League: 13, entre Arsenal, Fulham e West Ham.
No ano seguinte, Dani Rodrigues saltou diretamente da II Liga portuguesa (Feirense) para o histórico Southampton. Tinha 18 anos e prometia muito, mas uma chuva de lesões destruiu-lhe a progressão e confinou-o ao anonimato.
Chegou a fazer dois jogos na Premier League, ainda assim – não é para todos.
A viragem do milénio cimentou as apostas inglesas em pérolas lusas por lapidar. A maior parte fracassou, é verdade, e disso são exemplos Filipe Oliveira, Fábio Ferreira ou Ricardo Fernandes, que arriscaram deixar o conforto das camadas de formação de FC Porto e Sporting para tentar a sua sorte no Chelsea – sem resultado. Ou Rui Fonte, que deixou o Sporting com 16 anos rumo ao Arsenal e que só agora, passada uma década, se voltou a reencontrar em Braga. Ou ainda Ricardo Vaz Té, cujas lesões graves não o deixaram mostrar no Bolton o seu talento – conseguiu depois fazê-lo a espaços no West Ham. Além de Bebé, cuja transferência ainda hoje é tida como o pior negócio da história do Manchester United…
Em 2011, João Carlos Teixeira trocou os juniores do Sporting pelos sub-21 do Liverpool, caiu nas graças de Jurgen Klopp e acabou por voltar a Portugal na época passada, aos 23 anos, para representar o FC Porto – embora tenha sido raras vezes opção para Nuno Espírito Santo. Há ainda o exemplo de Rony Lopes, que aos 15 anos trocou o Benfica pelo Manchester City. Não chegou a jogar pela equipa principal dos citizens, mas vai consolidando a sua carreira em França, onde se prepara para iniciar já a quarta temporada – e só tem 21 anos.
Só mário rui explodiu em itália
O fim da década de 90 marcou também uma tendência especial para o êxodo migratório dos jovens portugueses em busca de um lugar ao sol: o futebol italiano. De uma assentada, três elementos dos juniores do Sporting assinaram pelo Inter de Milão em 2000: os centrais Vasco Faísca e Caneira e o avançado Paulo Costa. Do trio, só Caneira conseguiu ter verdadeira projeção: o regresso a Portugal logo no ano seguinte, para o Benfica, abriu-lhe as portas da Seleção, tendo ainda jogado a alto nível em França (Bordéus), Espanha (Valência) e novamente Portugal, de regresso ao Sporting. Paulo Costa também voltou logo com 21 anos, e para o FC Porto, mas nunca conseguiu confirmar o potencial que lhe era apontado. Passou os últimos seis anos da carreira entre Grécia e Chipre, longe dos grandes palcos. Já Vasco Faísca cumpriu grande parte da carreira nas divisões secundárias de Itália, onde ainda continua, aos 36 anos.
Ao longo da década de 2000, multiplicaram-se os casos de jovens lusos seduzidos pelas promessas italianas. Dois Pelés: um para o Inter, outro para o AC Milan; José Coelho e Pedro Ferreira, ambos também no Inter; Tiago Pires e Diogo Tavares, para o Génova; Ricardo Ferreira, para o AC Milan; e o Parma, que conseguiu aliciar Danilo Pereira, Mário Rui e Fábio Nunes – os dois primeiros recusaram mesmo contratos profissionais com o Benfica para seguir o sonho italiano. No caso de Mário Rui, correu bem: nunca singrou no Parma, mas cresceu dentro do futebol italiano, chegou à Roma e estará a caminho do Nápoles. Já Danilo não foi além de cinco jogos pelos parmesãos; dois empréstimos depois, desvinculou-se em definitivo, regressando a Portugal aos 22 anos para jogar no Marítimo. Correu bem: bastaram duas épocas para chegar ao FC Porto, sendo hoje um dos médios nacionais mais cotados.
Mais recentemente, foi Pedro Pereira a mudar-se do Benfica para a Sampdória ainda na adolescência: 17 anos. Fez duas épocas na primeira equipa da turma de Génova e, de forma surpreendente, foi novamente contratado pelo Benfica no último mercado de janeiro, devendo lutar esta época por um lugar no plantel do tetracampeão encarnado.
Da grécia, roménia ou turquia à Seleção
Historicamente, os mercados francês e alemão não têm sido tão apelativos para os jovens lusos. Mas essa é uma tendência que parece estar a mudar: no caso alemão, por exemplo, há a recente aposta de Moreto Cassamá, um dos mais promissores talentos da formação do FC Porto, que assinou pelo Borussia Monchengladbach. Além, claro, de Renato Sanches, seduzido pela glória desportiva – e financeira, obviamente – do Bayern Munique.
Em França, foi Costinha a desbravar caminho. Com 23 anos, e um passado exclusivamente nas divisões secundárias de Portugal, assinou de forma surpreendente pelo Mónaco. Aí seria campeão, voltando com 26 anos – e já com estatuto de internacional A – para o FC Porto. Kenedy, Bruno Basto e Paulo Machado foram outros exemplos, antes dos mais recentes negócios todos com o Benfica como denominador comum (Bernardo Silva, Ivan Cavaleiro e Gonçalo Guedes).
A partir de 2005, outra realidade se começou a impor: a emigração para mercados emergentes, com o objetivo de dar nas vistas e um dia voltar (ou chegar pela primeira vez) a um grande nacional ou mesmo à Seleção. Foi o que fizeram Vieirinha (primeiro PAOK e depois Wolfsburgo), Ivo Pinto (Roménia e Croácia até chegar à Premier League, pelo Norwich), Bruma (Turquia como ponto de partida para Espanha e agora Alemanha) ou as centenas de jovens lusos que têm optado por Roménia, Chipre, Polónia, Turquia ou mesmo o mercado dos Estados Unidos. Sem esquecer Dani, que se mudou para o Ajax numa fase áurea do clube holandês na Europa e aí maravilhou… nas folgas da vida mediática que sempre privilegiou.