Faltam dois anos para a Volvo passar a produzir apenas carros elétricos e híbridos. A BMW quer vender cem mil carros elétricos antes do término deste ano e a ideia é que esta se torne, progressivamente, a maior cota de mercado da empresa alemã. Já a Volkswagen, diz a Bloomberg, vai entrar no mercado dos elétricos em 2020, ano em que a Tesla, nome maior deste segmento, pretende entregar um milhão destes carros verdes por ano. A Honda espera que dois terços dos automóveis vendidos na Europa em 2024 sejam elétricos ou híbridos. E até 2050 a Toyota vai deixar de fabricar veículos que funcionem a combustíveis fósseis.
A venda de veículos elétricos ainda não disparou – até porque, estruturalmente, a maioria dos países ainda não está preparado para a massificação da mobilidade elétrica – mas há nações em que esta já é uma realidade mais uniforme,
“Na Noruega 40% do parque automóvel já é composto por veículos elétricos”, lembra Henrique Sanchez, presidente da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), afirmando que os incentivos são essenciais em países que apostem numa total revolução verde nas estradas. Por cá, nos primeiros quatro meses do ano as vendas aumentaram 87% em relação a igual período de 2016. Até ao final de abril, foram vendidos 1.057 – a título de curiosidade, o campeão de vendas é o Renault Zoe. Os primeiros mil tiveram direito a um incentivo do governo de 2250 euros.
A aposta de produção das marcas automóveis neste segmento também significa que, em breve, a oferta fará baixar o preço. E a Nissan foi pioneira neste campo – com o seu modelo Leaf, apresentado ao mercado europeu em Portugal em 2010 – os players têm consensualmente procurado fazer mais e melhor no setor.
E uma oferta diversificada de veículos elétricos foi algo que pareceu florescer no fim de semana passado nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto, onde, a propósito do encontro nacional de veículos elétricos, foi possível perceber como está o mercado a mudar. Tanto pelos carros como pelas pessoas que procuram saber cada vez mais sobre este tipo de mobilidade.
O silêncio das baterias O quinto encontro nacional de veículos elétricos partilhou as sombras dos Jardins do Palácio de Cristal com o Cidade+, “o maior evento de sustentabilidade em Portugal”, onde durante quatro dias os visitantes puderam assistir a conferências, concertos e performances artísticas sobre o ambiente. Por ali, os miúdos usavam lixo como instrumentos de percussão, havia quem ensinasse a montar sistemas de rega usando garrafas de água vazias e atores ‘vestidos’ de caixote do lixo sensibilizavam os mais novos para a necessidade da reciclagem.
Ali ao lado, os carros elétricos iam-se juntando dentro do pavilhão Rosa Mota e o evento decorria, literalmente, sobre rodas – e sem escapes. Houve 184 condutores de veículos elétricos que fizeram questão de levar o seu carro até ao Porto desde vários pontos do país e as inscrições mais longínquos chegaram de Espanha e de Marrocos, embora a organização também tenha recebido inscrições dos Açores e da Madeira. Como quem não tem cão caça com gato, um sem número de bicicletas, segways e trotinetes com baterias elétricas também se juntaram ao certame.
Para todos os gostos e bolsos Este foi o primeiro ano em que o encontro nacional de veículos elétricos pôde realizar-se sem medo de que os participantes lá pudessem chegar, graças à inauguração dos postos de carga rápida (PCR) nas autoestradas do país. Até agora, os locais escolhidos pela UVE em anos anteriores tinham-se centrado no centro do país – já foram palco do encontro dos carros amigos do ambiente as cidades de Proença-a-nova, Ourém, Lisboa e Coimbra. Para o ano, a organização deve rumar a sul.
Mas voltemos ao Palácio de Cristal, onde o barulho dos drones que filmavam o espaço se sobrepunha ao rolar quase impercetível das rodas pelo jardim. Por estes dias, a entrada estava reservada a meios de mobilidade suave: os carros de combustão foram barrados à porta, com exceção dos que, no domingo, tinham um evento no mesmo local.
Para quem está pouco habituado a estas andanças da eficiência energética associada a meios de transporte, não faltavam focos de surpresa. No lago, o barco eletro-solar da Sun Concept, concebido e produzido em Olhão – e que, como o nome indica, funcionava a energia solar – levava os visitantes por um curto passeio. No meio do recinto, o que podemos descrever como sendo um girassol feito de placas fotovoltaicas – Smartflower – rodava à medida do sol.
A Tesla era uma das presenças mais procuradas, até porque foi a primeira vez que a marca se fez representar oficialmente num evento. Ali, os visitantes podiam experimentar dois modelos emblemáticos da marca, o Model S e o Model X. Uma experiência futurista – que o i partilhou com um casal de ingleses e com os dois filhos, que fizeram questão de entrar no Model X, um carro equipado com uma bateria de 100 kWh – que lhe dá uma autonomia de cerca de 500 km – e um ecrã no tablier de 21 polegadas, a partir do qual se ‘manda’ no carro. “É maior do que a televisão dos meus pais”, ria um visitante enquanto espreitava pela janela.
Utilizadores e entusiastas Mas a prata da casa também fazia soltar uaus – falamos do Veeco, o primeiro veículo elétrico português homologado (ainda não disponível para comercialização) com apenas três rodas e em que a bagageira se situa à frente do carro, dentro do capot. Os novos Smart elétricos – ForTwo, ForTwo cabrio e ForFour – e outras recentes novidades como o Hyundai IONIQ 100% elétrico e híbrido Plug-in também se fizeram representar, assim como um sem número de produtos associados à mobilidade elétrica, como carregadores rápidos, semi-rápidos, portáteis e domésticos. Ou até bicicletas elétricas com a Flexy215, cuja bateria pode aguentar até 80 km.
Se os utilizadores dos veículos elétricos aproveitaram para tirar dúvidas – junto ao stand da UVE, foram decorrendo vários momentos em que condutores mais experientes relataram o dia a dia com os seus carros, as contingências (a autonomia das baterias continua a ser um dos principais problemas para os entusiastas da mobilidade) e também o dinheiro que já pouparam em combustível.
Mas este está a tornar-se, cada vez mais, num encontro não apenas de utilizadores mas também de curiosos e de condutores que pensam deixar os combustíveis fósseis para trás. “Cada vez recebemos mais pessoas que querem saber mais sobre veículos elétricos e que pensam adquirir um”, relata Henrique Sanchez.
E o preço não continua a ser um senão? Para este entusiasta, esse argumento já é leve e com a diversificação do mercado terá ainda menos peso no futuro. “O que vai acontecer com o mercado dos carros elétricos é o que acontece com o de combustão. Vai haver segmentação, desde carros para quem tem muito dinheiro a carros para quem tem menos, com interiores mais espartanos e outros muito sofisticados”.
Um estudo da Bloomberg, publicado em maio, dá-lhe razão: segundo a agência de notícias financeira, em 2025 vai ser até mais barato comprar um veículo elétrico do que um carro a gasolina. Tudo porque o custo de produzir uma bateria vai cair até 77% em 2030.
Depois do que foi uma “verdadeira travessia no deserto”, palavras dos primeiros compradores de veículos elétricos que viram a sua vida andar para trás com a falta de postos de carga rápida no país, o futuro sem combustão interna parece estar mesmo ao virar da esquina.