Primeiro o dinheiro, depois as armas. Há cinco anos, a China abriu a torneira do dinheiro de influência e desde então investiu milhares de milhões numa série de estruturas essenciais erguidas no Dijbuti, o pequeno mas estratégico país no extremo oriental de África. Pequim pagou parte da linha ferroviária que hoje liga o Djibuti à Etiópia, a sua vizinha sem porto de mar; investiu em dois novos aeroportos, participou na construção de gasodutos, oleodutos e aquedutos, ergueu uma central de liquidificação, um novo terminal de porto e uma mina para a extração de sal. Pelo meio negociou também empréstimos volumosos e a construção da sua primeira base militar no estrangeiro, a mesma que nos próximos dias receberá as suas primeiras tropas, que partiram ontem do sul do país.
As notícias da primeira base militar chinesa no estrangeiro – em 2015 – não surpreenderam muitos. Pequim está em franca expansão económica e diplomática e uma estrutura do Exército da Libertação num país por onde passa uma importante parte do comércio mundial parece menos alarmante aos olhos de países como os Estados Unidos do que a escalada na fatura militar chinesa, que, em três anos, ultrapassará a soma das despesas militares de todos os países ocidentais europeus. Os submarinos e navios chineses em posições distantes são em muitos sentidos uma maior preocupação para outros exércitos no mundo. Em todo o caso, a primeira pegada militar fora de casa – e noutro continente – parece ser não só um passo simbólico para uma potência emergente e incontestável, como também um modelo de teste para uma expansão futura.
“É um gigantesco progresso estratégico”, argumenta Peter Dutton, que estudou imagens de satélite da nova base chinesa. Segundo Dutton, professor no norte-americano Colégio Naval de Guerra, o governo chinês tenciona aumentar gradualmente a sua presença na região e vai provavelmente atrasar o envio de navios de guerra maiores e mais ameaçadores para a nova base. Mas a intenção parece clara: “É uma expansão do poder naval para proteger o comércio e os interesses regionais da China no Corno de África. É isto que os poderes expansionistas fazem. A China está a aprender com o Reino Unido de há 200 anos.”
Ambições
No quadro mais vasto das intenções chinesas, o Djibuti é simultaneamente uma migalha e um ponto fundamental da sua grande experiência africana. Metade das importações petrolíferas chinesas passam ao largo, no estreito de Mandeb, que liga o Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico. Pequim, de resto, vê o Djibuti com o mesmo interesse dos norte-americanos e franceses, que têm lá bases e apreciam tanto a sua estabilidade como a proximidade que tem ao Médio Oriente e palcos de militância jihadista, como a Somália. Através do Djibuti, o governo chinês pode também proteger os milhares de cidadãos que tem distribuídos por dez mil empresas em África – já se viu obrigada a fazê-lo improvisadamente, no Iémen e Líbia, por exemplo.
O Djibuti é também uma peça da ambiciosa nova Rota da Seda, a grande missão económica de Pequim que tenciona ligar a Ásia Central, à Europa e a África por via de uma tentacular rede de transporte de mercadorias e pessoas. A intenção é que se estenda a mais de 60 países, a cerca de 60% da população mundial e a um terço da sua riqueza. A mensagem de Pequim continua a ser a de que não tem aspirações ao domínio imperialista que atribui aos EUA; ou que a sua expansão económica não acontecerá por via do colonialismo que os europeus fizeram no passado. Mas o programa chinês em África – onde crescem queixas contra imposições chinesas – parece ser um modelo previdente.
Pequim passou de investir 2700 milhões de dólares no estrangeiro – em 2012 – para os 170 mil milhões no último ano. Uma parte importante foi para países africanos, com quem Pequim quer semear laços de amizade e sementes de influência. Nas palavras de Shen Dingli, professor na Universidade de Fudan, em Shangai. “Os EUA expandiram os seus negócios pelo mundo e enviaram o seu exército para os proteger nos últimos 150 anos. Agora a China vai fazer o mesmo.”