Américo Amorim. Empresário maior que a sua riqueza

O homem mais rico de Portugal morreu a poucos dias de completar 83 anos. Ao longo da vida construiu um grupo com dezenas de empresas nos cinco continentes e diversas áreas

Américo Amorim morreu ontem na sequência de complicações de saúde que já o afetavam há algum tempo. Faria 83 anos no próximo dia 21 de julho e, de acordo com a lista das pessoas mais ricas do mundo divulgada pela revista “Forbes”, era o homem mais rico de Portugal. 

A sua fortuna estava avaliada, este ano, em 4,09 mil milhões de euros, mas não se considerava rico. “Não me considero rico. Sou trabalhador”, disse em 2011 ao “Jornal de Negócios”, questionado sobre se aceitaria um imposto especial para as grandes fortunas.

Natural de Mozelos, pai de três filhas (Paula, Marta e Luísa), o empresário construiu um grupo económico que vai desde o imobiliário ao sistema financeiro, passando pela energia e pelo turismo. No total, Amorim chegou a ter mais de 200 empresas sob a sua alçada. 

Nascido no seio de uma família que vivia no norte de Portugal, que nos anos 1930 era caracterizado pela pobreza, quando tinha dez anos só usava sapatos para ir à missa ao domingo.

Palavra

Quem com ele se cruzou sempre o viu como um homem duro, com muita vontade de crescer. Houve alturas em que muitos não entenderam nem concordaram com as decisões que tomou, mas Amorim continuou a fazer aquele que achava que era o seu caminho. Sempre com algumas regras de ouro: uma, a exigência; outra, a palavra. 
Para este homem, que a “Forbes” chegou a coroar “Rei da Cortiça”, a exigência foi sempre não um ato, mas sim um hábito. Já em relação a ser um homem de palavra, Américo sempre sublinhou: “Somos uma família de contas. O aperto de mão é uma escritura.”

Fez o curso comercial no Porto e foi trabalhar nos anos 50 para a empresa de cortiça da família. Depois viajou pelo mundo. “Estive durante quatro anos e meio fora de Portugal, nos caminhos-de-ferro, em segunda classe, e a dormir em pensões. Andei pela América do Sul, Europa central e Ásia. Conheci povos, mentalidades, culturas, guetos de poder, sociedades desfavorecidas. Fiquei com a ideia de como era o globo. Foi uma universidade fantástica”, revelou à revista “Visão”. 
Em 1963 é fundada a Corticeira Amorim, que tem como sócios os quatro irmãos da família e um tio. Américo Amorim aposta na exportação e na internacionalização da empresa e, depois da revolução do 25 de Abril de 1974, Amorim investe. “Enquanto os outros fugiam, eu fiquei e comprei”, afirmou. 

Novos setores

Nas décadas seguintes, diversificou os negócios. Em 1981 esteve envolvido na criação da Sociedade Portuguesa de Investimentos (SPI), que daria lugar ao BPI. Mais tarde virá a participar no BCP, o banco privado fundado em 1985.

Depois da área financeira, o grupo posiciona-se em setores como as telecomunicações, o turismo e o petróleo. 
Atualmente, o Grupo Américo Amorim (GAA) detém posições em dezenas de empresas nos cinco continentes e em diversas áreas económicas, desde a cortiça ao têxtil, à vitivinicultura e ao enoturismo.

Na área da cortiça, o GAA é o líder mundial através de 78 empresas, das quais 28 são unidades industriais de transformação, estando os seus produtos presentes em mais de 100 países.

O setor de bens de luxo é “uma área de negócio de forte potencial futuro” onde o GAA apostou através da marca Tom Ford, na qual detém 25%. 

É na área da moda que se especializou a filha mais velha de Amorim. Paula, vice-presidente do GAA, dona das lojas de moda Fashion Clinic e Gucci, substituiu o pai na presidência do conselho de administração da Galp Energia em outubro de 2016. 

A filha Marta tem também cargos no GAA e desempenha funções noutras empresas detidas pela família, enquanto Luísa, apesar de já ter passado “por todas as áreas da corticeira”, ficou à frente do negócio de vinhos do grupo na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e na Quinta de S. Cibrão, em Sabrosa, no Douro.

A Comenda de Mérito Agrícola e Industrial, ainda no início dos anos 80, ou a condecoração com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 2006, serão dos títulos honoríficos mais relevantes que Amorim foi acumulando.