“Não tenham dúvidas, isto é uma revogação. O Obamacare está essencialmente morto”. Estas palavras foram proferidas de forma triunfante, no início de maio, nos jardins da Casa Branca, por um sorridente Donald Trump, ladeado por uma multidão de congressistas do Partido Republicano. Horas antes, uma votação renhida na câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos tinha resultado na aprovação para discussão no Senado do Trumpcare, o plano de saúde concebido pela presidência para revogar e substituir o Obamacare.
Na realidade, Trump tem toda a razão. O Affordable Care Act tem efetivamente os dias contados, hoje mais do que nunca. Mas não da forma que o presidente queria.
Arrancar o ‘sim’ dos congressistas do GOP ao novo plano já tinha sido mais custoso do que o líder norte-americano previra, mas essa etapa sempre foi vista como a mais acessível em todo o processo de desmantelamento do maior símbolo da presidência Obama, tendo em conta maioria folgada dos republicanos na Câmara dos Representantes. A verdadeira luta estaria reservada ao Senado.
Com uma maioria de 52-48, o Partido Republicano só poderia dar-se ao luxo de perder três votos e face ao pouco entusiasmo que o plano de saúde de Trump gerou dentro do partido, a aprovação nunca esteve 100% garantida.
Na noite de segunda-feira, enquanto Trump jantava com representantes do partido, os senadores Susan Collins, do estado do Maine, e Rand Paul, do Kentucky, anunciaram, de forma surpreendente, a intenção de rejeitar o Trumpcare, deixando a contenda empatada, em caso de votação. E ontem, Mike Lee, do Utah, e Jerry Moran, do Kansas, juntaram-se a Collins e Paul, destroçando o sonho de substituição do Obamacare.
Assim, depois de meses de promessas de um plano de saúde mais ambicioso, menos custoso e “muito, muito, muito melhor” do que aquele que conseguiu dar um plano de saúde a mais de 20 milhões de norte-americanos que o não tinham, Donald Trump viu-se obrigado a mudar de estratégia e a focar-se em acabar com o Obamacare sem o substituir.
“Os republicanos devem agora REVOGAR o ineficaz Obamacare e trabalhar num novo plano de saúde a partir do zero”, escreveu o presidente dos EUA na sua conta de Twitter. “Como eu sempre disse, deixem o Obamacare falhar e depois juntem-se para fazermos um grande plano”, acrescentou, quer naquela rede social, quer em declarações aos jornalistas na terça-feira, reproduzidas pela CNN, revelando-se “desapontado” com o sucedido.
Esta mudança de planos de Trump põe em evidência as dificuldades que tem tido para pôr em prática todas as promessas que fez durante a campanha, mesmo tendo em conta que o seu partido tem maioria nas duas câmaras do Congresso.
Numa altura em que administração Trump comemora seis meses de existência, os sinais oriundos da opinião pública também não são os melhores. De acordo com uma sondagem ABC News/“Washington Post”, divulgada no passado domingo, a taxa de aprovação do presidente dos EUA desceu para os 36%, menos 6% que o número verificado quando se assinalaram os 100 dias de presidência republicana. Há 70 anos que não se verificava no país uma aprovação tão baixa para um presidente ao fim de apenas meio ano de exercício do cargo.