A detenção de um ativista de direitos humanos de nacionalidade alemã em território turco, sob suspeita de ligações terroristas, foi a gota de água para o governo alemão.
Numa conferência realizada esta quinta-feira, em Berlim, o ministro dos Negócios Estrangeiros defendeu que aquele episódio, somado às suspeitas recentes, levantadas por Ancara, sobre a existência de ligações entre empresas alemãs sediadas no país e o movimento que esteve por trás da tentativa de golpe de Estado, obrigam a Alemanha a uma mudança radical nas suas relações com o país de Recep Tayyip Erdogan.
“Necessitamos que a nossa política para a Turquia se mova numa nova direção. Temos de ser mais claros do que temos sido até agora para que os responsáveis em Ancara percebam que as suas políticas têm consequências”, argumentou Sigmar Gabriel.
De acordo com o ministro, a “reorientação” da abordagem política do governo de Angela Merkel para a Turquia passará, em primeiro lugar, pelo fim da garantia de investimento das empresas alemãs naquele país. Para além disso, a Alemanha quer reunir-se com os restantes Estados-membros da União Europeia e rever os fundos transferidos regularmente para a Turquia, no âmbito do quadro de pré-adesão dos turcos à organização comunitária. “Queremos que a Turquia faça parte do Ocidente, mas são precisas duas pessoas para dançar tango”, desabafou o chefe da diplomacia alemã.
O ativista Peter Steudtner – detido na mesma operação que colocou atrás das grades Idil Eser, a diretora da Amnistia Internacional na Turquia – não é o único alemão acusado de apoiar grupos terroristas em solo turco. Deniz Yücel, correspondente do “Die Welt” também se encontra preso desde fevereiro pelos mesmos motivos, pelo que o governo alemão sentiu necessidade de alertar para os riscos de viajar para a Turquia, nos dias que correm.
Cem Özdemir, do Partido Verde alemão, acredita que tanto o jornalista, como o ativista são “reféns políticos” de Erdogan que, acusa, pretende forçar a Alemanha a extraditar dois generais turcos envolvidos no golpe do ano passado.
Em resposta à tomada de posição de Berlim, um porta-voz do presidente Erdogan lembrou as “boas relações” existentes entre os dois países e apelou à separação das águas. “Não podemos aceitar tomadas de posição que possam distorcer o ambiente económico, baseadas em motivações políticas”, afirmou Ibrahim Kalin, citado pelo “Guardian”, a partir da capital turca.
As “boas relações” apregoadas por Kalin têm vindo, na realidade, a deteriorar-se nos últimos meses. Um dos momentos mais tensos entre os dois países ocorreu em plena campanha para o referendo que ofereceu todos os poderes e mais alguns ao presidente turco, em março deste ano. A Alemanha foi o primeiro Estado europeu a rejeitar a realização de comícios de campanha no seu território, decisão que espoletou uma reação dura de Erdogan. “Eu pensava que o nazismo tinha acabado, mas estava enganado. O nazismo está bem vivo no Ocidente”, acusou o líder turco.