O pano de fundo em mais uma polémica na Casa Branca é de novo – e sempre – o fantasma russo. Numa entrevista ao “New York Times”, o presidente dos Estados Unidos decidiu atacar um dos seus mais leais soldados, pela forma como geriu – ou se esquivou de gerir – as suspeitas sobre a interferência de Moscovo nas eleições norte-americanas e as ligações entre o Kremlin e membros da sua administração.
Jeff Sessions, o primeiro senador a declarar apoio à candidatura presidencial de Donald Trump, chegou ao cargo de procurador-geral pela sua mão, mas não se tem portado como o presidente gostaria. A recusa do ex-senador do Alabama em liderar as investigações sobre a Rússia levou o chefe de Estado a confessar-se arrependido pela sua escolha e a tornar público esse remorso. “Sessions nunca deveria ter-se recusado. Se eu soubesse que o iria fazer, tinha escolhido outra pessoa qualquer”, afirmou Trump. “[A decisão do procurador] foi extremamente injusta para o presidente”, acrescentou.
Para além da recusa, Trump também não ficou satisfeito com a postura de Sessions, durante as audiências no Senado que antecederam a sua nomeação. O procurador garantira que nunca se tinha reunido com representantes russos durante a campanha presidencial, mas já em funções soube-se que se encontrara com Sergey Kislyak, embaixador da Federação Russa nos EUA. “Jeff Sessions deu más respostas”, concluiu Trump, em declarações a um dos meios de comunicação que acusa repetidamente de fabricar notícias falsas sobre si.
A deslealdade lamentada pelo presidente não parece, no entanto, ter criado mossa junto do procurador-geral. Sessions garantiu esta quinta-feira que “adora” o seu trabalho e que planeia “continuar enquanto achar que é apropriado”.
Outros arrependidos
É verdade que o atual presidente dos EUA nunca ligou muito às sondagens, e a forma como foi eleito, contra as previsões de todos os inquéritos e mais alguns, são um forte argumento para continuar com a mesma postura. Mas numa altura em que se cumprem seis meses de administração Trump, é difícil não olhar para os números negativos que teimam em pairar sobre a Casa Branca.
Segundo uma sondagem Reuters/Ipsos, um em cada oito norte-americanos que votaram em Donald Trump, não tem a certeza de voltaria a fazê-lo, caso a eleição se voltasse a realizar. O arrependimento revelado por estes eleitores é agravado por um outro estudo, da ABC News/“Washington Post”, revelado no domingo, que conclui que a taxa de aprovação do presidente está nos 36%, o mais baixo valor dos últimos 70 anos, no que toca aos primeiros seis meses de exercício do mais alto cargo político nos EUA.