São 9h40 e a estação de Santa Apolónia ainda não fervilha com os turistas habituais. Até as linhas da estação estão completamente vazias e, para já, não há composições a chegar. Este silêncio não é habitual.
Interrompemos Juliano enquanto ele se inteira dos horários dos comboios, observando com atenção um dos ecrãs informativos da estação de Santa Apolónia. “Não tem mal, não tem mal”, diz imediatamente. O seu comboio só chega dali a 20 minutos.
Aos 19 anos, aventurou-se sozinho para a capital portuguesa em abril através da sua faculdade no Brasil. Um intercâmbio universitário trouxe-o até Lisboa: “Venho durante seis meses. O objetivo inicial era estudar, mas, como agora estou de férias, aproveitei para tentar encontrar emprego aqui para levar algum dinheiro para o Brasil”. Agora trabalha como vendedor na elétrica Iberdrola. “Só demorei umas duas semanas a encontrar trabalho, acho que até foi rápido”, diz.
No Brasil, cresceu em Lagoa, Rio de Janeiro, zona encostada à parte turística de Ipanema e do Leblon. O nome provém, naturalmente, da enorme lagoa Rodrigo de Freitas que há neste bairro carioca. Morava com os pais e, quando lhes disse que viria para Portugal, o otimismo da família surpreendeu-o: “Os meus pais apoiaram-me logo quando eu disse que queria vir para Portugal. ‘Vai, vai embora daqui, se não acabas por ficar aqui para sempre’, disseram-me”.
A meio da nossa conversa, uma interrupção: “Sou sem-abrigo, não tenho casa, não tenho família nem trabalho, posso pedir-vos uma moeda, se faz favor?”, pede um mendigo. Perante a nega, acaba por se afastar a murmurar impropérios. “É normal”, suspira Juliano.
Continuando, explica-nos o otimismo dos pais: “No Brasil acha-se que Portugal é um outro mundo, uma outra realidade. Toda a gente quer ir para Portugal. Há muitos brasileiros que vêm para Portugal por causa disso. Toda a hora que abro o Instagram vejo amigos meus a virem para cá”.
E, pelos vistos, as expectativas não saíram goradas. Juliano não se cansa de elogiar Lisboa: “Estou a adorar viver aqui”. Só volta ao Rio de Janeiro em setembro, mas parece já ter saudades da capital portuguesa e compara-a com a realidade brasileira: “A principal diferença que noto daqui para o Brasil são os preços das coisas, aqui é tudo mais barato. Muito, muito mais barato. Incomparável”.
“Aqui as pessoas são mais educadas. E também o trânsito, aqui dá para atravessar a estrada sem o medo de poder ser atropelado. Atravessar a rua no Brasil é uma aventura, um grande perigo”, acrescenta.
Juliano vai voltar a atravessar o oceano Atlântico daqui a dois meses. Por agora, vai só apanhar o comboio para a estação do Oriente para ir trabalhar.