Nem vestidos cavados com ombros à mostra, nem sapatos abertos. As regras de vestir no Congresso dos Estados Unidos estão a gerar polémica desde que uma jornalista foi impedida de entrar no lobby do presidente da Câmara dos Representantes – uma área à entrada do plenário da câmara onde congressistas e jornalistas se costumam misturar – por a blusa que vestia deixar os ombros à mostra.
As regras existem há muito e impõem o formal de fato e gravata para os homens e a necessidade de esconder os ombros e os dedos dos pés para as mulheres. É assim há muito, só que agora as redes sociais amplificaram a proibição da jornalista, os média sublinharam o conservadorismo e Paul Ryan, o líder da Câmara dos Representantes, já fez saber que pretende introduzir alterações nesse velho código de conduta.
Uma trintena de mulheres, republicanas e democratas, realizaram até um protesto no Congresso, aparecendo todas com roupa cavada e ombros à mostra. Foi numa sexta-feira, a sexta-feira do «direito a usar os braços à mostra». Chegou a altura de mudar o que já não faz sentido gritaram as mulheres. «Estamos em 2017 e as mulheres votam, podem ser eleitas e escolhem o seu próprio estilo. está na altura de atualizar as Regras do Congresso para que possam refletir este tempo», escreveu no Twitter a congressista Chellie Pingree.
Houve quem aproveitasse para lembrar outra disposição caduca que durou até há não poucos anos, a de que todas as casas de banho eram para homens, não havendo especificamente para mulheres. Só em 2010, numa das suas primeiras decisões como presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner mandou criar uma casa de banho para mulheres junto ao plenário.
O gabinete de Ryan já admitiu que as regras de indumentária «poderiam ser um pouco modernizadas», resposta que a líder da minoria na Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi saudou num tweet: «Folgo em saber que @SpeakerRyan vai atualizar as regras de vestir para o Congresso. Estas regras não escritas estão a precisar de ser atualizadas».
Vanessa Friedman, na sua coluna no New York Times, dava conta de dois pesos e duas medidas usados pelo gabinete do presidente da Câmara dos Representantes na aplicação do estrito código de vestimenta para as mulheres naquele espaço, ao mencionar que a primeira-dama, Melania Trump, usou naquele mesmo espaço, e por duas vezes, vestidos sem mangas que deixavam ver os braços até aos ombros. Sinal de que nisto de impor regras com dezenas de anos, a coerência parece faltar.
Sobre quando se começará a aplicar o novo código de roupa para mulheres, mas também para homens – Ryan aceitou recentemente responder à pergunta de um congressista que não usava gravata, todo um momento simbólico da rigidez do protocolo –, ainda não foi adiantada qualquer data. Pode até ser que, tal como o existente nunca foi escrito, o mesmo venha a acontecer com o próximo, limitando-se a não se barrar nem jornalistas, nem congressistas que se vistam mais de acordo com a informalidade da sociedade atual.