Caras novas nas fotografias, a liturgia e a inutilidade de sempre. Perguntar-se-á: os ‘senhores do mundo’ reúnem para quê? Para salvar o Planeta? Para resolver conflitos? Para cuidar dos pobres e oprimidos? Para estimular a cooperação entre países ricos e pobres? Para salvar os que padecem de fome e de doenças? Nada disso! Reúnem para acordar a divisão das rendas.
Qualquer manual que trate de coisas como a cartelização ou o abuso de posição dominante ensina que, quando as empresas acertam estratégias, é para aumentar os ganhos, jamais para os reduzir. O mesmo acontece com as nações. Os ‘senhores do mundo’ encontram-se para tratar daquilo que mais lhes importa: conter os preços das matérias-primas, distribuir mercados e renovar ‘pactos de não-agressão’ nas suas coutadas. É este o fulcro das combinações entre ricos e, por extensão, das cimeiras dos G’s desta Terra.
Em boa tarde dos casos, as cimeiras são aproveitadas para acertar discursos quanto a assuntos incómodos: basta lembrar as conversas secretas entre Trump e Putin sobre a ingerência da Rússia nas eleições americanas. Acessoriamente, os G’s ocupam-se de coisas mais comezinhas, como ganhar os favores das cúpulas dos países produtores ou substituir os líderes que não se mostrem dóceis, ou não se contentem com o dinheiro que vai para as contas da Suíça.
Outras vezes, discutem-se estratégias para ignorar, ou para intervir, em conflitos como os que opõem os tutsis aos hútus, em África, ou sunitas e xiitas, no Médio Oriente. Ignorar ou intervir depende de uma só razão: do grau de afetação dos interesses de cada um. Se der para vender armas, melhor.
E se os conflitos degenerarem em genocídio, reúne-se o Conselho de Segurança, que fará solenes proclamações para mostrar que, naquele fórum, existe… ‘concern’. Uma encenação para acalmar as boas consciências e, sobretudo, desviar as atenções da imprensa internacional.
E como se consegue compor tudo isto? Em horas de conversas de bastidores, sejam eles os da ONU, das cimeiras dos G’s, ou do Clube de Bilderberg. Até pode acontecer que haja ‘braços de ferro’, que duram até que o mais fraco ceda; mas, no final, lá estarão os sorrisos das fotografias para mostrar que tudo acabou em bem. As perguntas que falta fazer são outras: como é que tanta gente aceita que a ganância dos interesses sacrifique milhões de pessoas inocentes? Como existe cara para acusar os assassinos da História, esquecendo os do presente? Só porque os cenários da morte já não são os Gulags e os fornos crematórios?
Em alguma cimeira dos G’s se falou da mortandade causada pela exploração do petróleo ou pelo comércio de armas? A ONU preocupa-se com isso? Alguma agência internacional imputou responsabilidades aos que instigaram assassínios para levar ao poder fantoches corruptos? Não! Ninguém ousou levantar essas questões, nem as vai levantar. Melhor organizar cimeiras…
Enquanto o pau vai e vem, o marfim continua a correr!