Investimento ‘oculto’ nas infraestruturas

O investimento público em infraestruturas de transporte, sociais e básicas foi uma das grandes prioridades dos Orçamentos de Estado durante mais de três décadas, mas culminou no último orçamento antes da crise económica e financeira de 2011. Em 2016, segundo o Eurostat, o investimento público português atingiu um mínimo histórico equivalente a 1,5% do PIB.

O investimento público é determinante para o crescimento económico e constitui um estímulo importante para o investimento privado. Veja-se por exemplo, a importância do investimento na criação de portfólio e massa crítica nas empresas de construção civil portuguesas, dotando-as de capacidade de internacionalização quando foi necessário. Ou, o exemplo da Porto Vivo que contabilizou 1.500 milhões de euros de investimento privado na reabilitação urbana ao longo dos últimos 12 anos; ainda segundo o presidente Álvaro Santos «cada euro de investimento público alavancou 23 euros de investimento privado». 

Portugal pode não precisar de investir em grandes infraestruturas de betão e aço como no passado. Contudo, quando feito de forma inteligente, há ainda espaço para que o país possa investir novamente nas mesmas. Assim, o próximo programa de investimento público também deve ser investimento na mudança de paradigma. Para além de servir para conservar a infraestrutura existente, o investimento deverá ser direcionado para infraestruturas de menor impacto visual, mas capazes de trazer maior otimização e eficiência das existentes. Por exemplo, investimento na gestão de resíduos irá permitir devolver os mesmos ao ciclo produtivo, logo evitar a necessidade de se construir novas infraestruturas de exploração de matérias primas; ou, a redução dos desperdícios de água, prolongará a manutenção sustentável deste bem essencial e evitará a construção de mais estações de tratamento. De acordo com a revista Time, este é um caminho que está a ser estudado nos Estados Unidos.

Certamente que um novo programa de infraestruturas não terá a dimensão física e o impacto visual do passado, mas espera-se que este tipo de investimento em infraestruturas ‘ocultas’ possa ter a dimensão tecnológica para transformar a economia do país. A aceleração do fluxo de capital privado para novos sistemas construtivos, novos sistemas de gestão e sistemas sustentáveis de energia, será um elemento fundamental de qualquer esforço realista para alcançar ambiciosos e novos objetivos estratégicos nacionais, tanto na construção civil como na sociedade em geral.

Elói J. F. Figueiredo
Diretor da Licenciatura e do Mestrado em Engenharia Civil
Universidade Lusófona, Lisboa