Céu azul, zero nuvens, iPhone a marcar uma temperatura perto dos 30 graus. Perfeito. Mais perfeito ainda porque o dia é de folga e se está no Algarve.
Depois de uma infância e juventude em que as férias com os pais acabavam sempre no que chamo agora de “Algarve comercial” – aquela linha entre Quarteira, Albufeira, Vilamoura e Portimão -, eis que me vejo, aos 30 anos, a descobrir todo um novo mundo a sul.
Quando passei uma semana em Tavira, num setembro já sem turistas nem filas intermináveis para jantar no Noélia e Jerónimo, telefonei imediatamente aos meus pais, indignada pelos anos passados entre praias cheias de gente, esplanadas repletas de ingleses e cocktails.
A experiência deu vontade de voltar a explorar o “Algarve pouco comercial”, desta vez em Lagos. “É tão bonito”, “as praias são incríveis”, “mas a água é mais fria, atenção”, diziam-me, em tom de aviso, esquecendo-se de que os primeiros banhos de uma minhota são tomados entre Âncora, Afife e Moledo, onde o mar dificilmente passa os 15 graus.
Toalha e protetor na mochila, marmita feita e livros debaixo do braço, façamo-nos à estrada. E acabados de chegar, não nos aventuramos para longe: Meia Praia era o destino.
Praias da moda A força com que a porta do carro fechou mal estacionámos à beira das dunas não augurava nada de bom. Os cabelos já estavam à frente da cara, a areia magoava nas pernas, mas mesmo assim avançámos. A odisseia de tentar esticar a toalha era digna de vídeo no YouTube, mas quando já era mais a areia na boca do que na praia, desistimos. Safou-nos o Bar do Quim que, segundo os locais, é o “único de jeito, tudo o resto é para turistas”.
Segundo dia, segunda tentativa. Desta vez deixamo-nos levar pelos resultados da pesquisa “praia Lagos” no Google. Um dos primeiros resultados dá conta de que a Praia do Camilo é, segundo o TripAdvisor, uma das mais únicas do mundo. Parece perfeito. Só que não.
A praia é de facto bonita, está abrigada do vento e tem um restaurante de onde tanto saem omeletes mistas como ostras da ria de Alvor. Problema: não há um metro quadrado livre para estender a toalha e, desta vez, não estamos a recorrer a hipérboles. Com esforço, lá conseguimos sentar-nos – sim, sentar-nos – e, depois de duas horas a levar com o “Despacito” do grupo ao lado ou com a geleira sempre a abrir da família da frente, voltamos ao topo da escadaria que faz a ligação para esta praia que, de facto, se mostrou “única”, mas não por boas razões.
Que vento é este? Não contentes com o erro da manhã, voltamos ao Google para ocupar o resto do dia. “Praia Dona Ana considerada a melhor praia de Portugal”, lê-se logo na primeira pesquisa sobre Lagos. Seguimos então para uma praia já com espaço para estender a toalha, mas que mostrou logo dois pontos negativos: o senhor das bolas-de-berlim, na verdade, já só tinha refrigerantes, e o vento, que chegou a pôr alguns distritos do litoral sob aviso, continuava a não dar tréguas.
No dia seguinte, o vento mantinha-se mas, desta vez, desligamos o wifi para seguir o conselho de uma amiga. Se alguém te diz que a praia de Cabanas Velhas é a mais bonita onde já esteve, nós acreditamos. E, de facto, foi preciso conduzir 17 quilómetros para chegar a algo parecido com o imaginário de umas férias de verão a sul.
O vento não amainou, mas as arribas ajudam a proteger da nortada. As pessoas não desapareceram, mas não trouxeram o “Despacito” nem todo um frigorífico para abastecer o dia de praia. Não há bolas-de-berlim na praia, mas há um restaurante que serve desde húmus de beterraba para entrada, pianos de entrecosto fumado para prato principal e cheesecake de chocolate branco para sobremesa.
Feita a digestão, há tempo para mais um mergulho antes de escolher entre secar na toalha ou numa das cabanas protegidas por panos brancos. Custam 25 euros, mas dão para uma família. Além disso, as arribas dão beleza ao postal, mas nem elas são suficientes para uma semana em que uma depressão de origem térmica se junta a um anticiclone dos Açores.