Inácio teve de recorrer à embaixada portuguesa para deixar o Zamalek

O treinador foi retido nas instalações do clube egípcio até à chegada do presidente, mas conseguiu mesmo um acordo para a rescisão amigável

Uma história surreal, aquela que envolveu Augusto Inácio no Egito durante a tarde de ontem. O treinador português, desde abril a orientar o Zamalek (um dos maiores clubes do país), esteve retido nas instalações do clube durante toda a tarde, sendo impedido de sair pelos funcionários do clube. Inácio acabou por ter de recorrer à ajuda da Embaixada Portuguesa no Egito para resolver a questão e assinar a desvinculação com o Zamalek.

E tudo porque, há poucos dias, decidiu, em plena conferência de imprensa, desmascarar o homem-forte do clube: o presidente Mortada Mansour. Inácio acusou Mansour de ter mentido numa série de questões para preservar a sua imagem junto dos adeptos, atirando ao mesmo tempo as responsabilidades desses assuntos para cima do técnico luso – uma das situações prende-se com Shikabala, que passou sem qualquer glória pelo Sporting entre 2013 e 2015. De acordo com Inácio, o presidente queria dispensar o médio, mas atendendo ao facto de este ser um dos preferidos dos adeptos, fez passar a mensagem de que a eventual dispensa de Shikabala se devia a uma questão técnica, sendo por isso uma decisão do treinador. Logo após essa intervenção de Inácio, Mansour havia garantido à imprensa egípcia que iria até às últimas consequências contra o treinador luso: “Todos os comentários do Inácio contra mim e contra a direção do Zamalek serão encaminhados para a FIFA, porque vou fazer uma queixa formal contra ele.”

Em declarações ao “Maisfutebol”, Inácio explicou todo o episódio. “Nós estamos em Alexandria e o presidente Mortada Mansour mandou-me regressar ao Cairo para termos uma reunião. Eu viajei ontem [quarta-feira], entretanto o presidente mandou dizer que já era tarde e a reunião ficava para hoje [ontem]. Tudo bem. Hoje [ontem] apresentei-me nas instalações do clube e recordei que havia um treino marcado para a tarde em Alexandria. Portanto exigi um papel a confirmar que estava autorizado a faltar ao treino para estar nesta reunião, porque não queria ser acusado de faltar ao trabalho e dar uma razão ao clube para rescindir unilateralmente. Disseram-me que o presidente já estava a chegar e que não ia ser preciso. O tempo passou, o presidente não chegava e eu disse que me ia embora, que não ia faltar ao treino. Não me deixaram sair”, contou o técnico luso, garantindo nunca ter estado em perigo: “Não fui ameaçado fisicamente. Estivemos a conversar, tudo tranquilo. Só não me deixavam sair.”

Cerca de uma hora depois (por volta das 17h30 portuguesas), Mortada Mansour acabou por chegar ao local e reuniu-se mesmo com Augusto Inácio para tratar dos pormenores relativos à rescisão do contrato – que foi amigável e cujo acordo garantiu ainda uma verba para o treinador português. Isto, numa altura em que já estavam no local dois elementos da representação diplomática lusa.