A Assembleia Municipal de Lisboa (AML) não existia até Helena Roseta ser sua presidente. Fez um acordo coligatório com António Costa em 2013, tendo sido candidata independente à Assembleia Municipal nessas eleições. Venceram ambos, tendo Costa ficado na praça do Município e Roseta com o antigo Cinema Roma, na Avenida de Roma.
Helena Roseta foi do PSD, do PS e depois independente. Como independente, primeiro combateu Costa, depois aliou-se a ele. Nas legislativas de 2015, como recompensa pelo trabalho e lealdade, é colocada como número 3 na lista do PS, sendo eleita deputada da Assembleia da República, passando a acumular as duas funções.
Quando foi para a Assembleia Municipal, em 2013, Roseta transformou o velho Cinema Roma na verdadeira casa da democracia da cidade de Lisboa.
Ficaram ali representadas forças políticas que não conseguiram eleger vereadores. Todos se sentaram à mesma mesa para fazer um novo regimento que abria à participação de cidadãos – de viva voz ou através de petições. Mas o regimento é letra morta se os políticos quiserem. Ali, pelo contrário, deram-lhe vida.
A AML passou a funcionar como órgão de fiscalização do executivo – diariamente através de comissões, e uma vez por semana em plenário. Para além de debates políticos, fizeram-se debates específicos da cidade, durante várias sessões – fosse sobre os hospitais da colina de Santana, sobre economia e emprego, sobre os transportes, a Segunda Circular ou a violência sobre as mulheres.
Nos debates semanais abriu-se um período antes da ordem do dia para os munícipes, inscritos antecipadamente, irem expor os seus problemas. Sem surpresa, 80% das queixas foram sobre o problema da habitação, quase sempre municipal.
Aqui, Helena Roseta, sentada a presidir à sessão, extrapolou sempre as suas funções.
Aproveitando o conhecimento do tema e a posição institucional, fazia o diálogo com o munícipe, mostrava interesse, parecia prometer resolução para o caso, e terminava a intervenção encaminhando o queixoso para a vereadora Paula Marques, também presente. E isto porque o presidente e restantes membros do executivo camarário deslocam-se às terças-feiras à Assembleia Municipal para estas sessões. De referir que a vereadora da habitação, Paula Marques, não é socialista, pertencendo ao movimento de independentes de Helena Roseta.
Acontece entretanto que, desde 2015, Roseta se dedicou a capitanear o tema da habitação também no Parlamento. E, com esta triangulação, tornou-se incontornável no tema chave da cidade. Como alguém uma vez disse, trocista, tornou-se a Santa Padroeira das Casinhas de Lisboa…
Helena Roseta deixou de ser independente há muito e teve óbvios ganhos políticos pessoais com a gestão inteligente e finíssima do tema habitação. Mas, com todas as críticas que se lhe possam fazer, transformou uma velha instituição bafienta e amorfa numa casa poderosa, viva e desafiante. Esse mérito já ninguém lho tira.
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