Estou à porta da estação de comboios de Santa Apolónia à procura de viajantes com experiências para partilhar. Em qualquer lugar há sempre uma história à espera de ser contada e a porta de Santa Apolónia é um lugar tão bom como outro qualquer.
Saio da estação, olho em volta à procura de turistas com quem falar, enquanto penso na melhor abordagem. Vejo um grupo animado mesmo à porta, a maioria são jovens, rodeados de uma série de tróleis, o principal indicador de que estão em viagem. Resta saber se Lisboa é a cidade de partida ou de chegada. Ponho a timidez de lado, ganho coragem outra vez e pergunto-lhes se alguém fala inglês. Respondem-me com um sorriso e com um sotaque que não engana: são americanos.
Apresento-me, explico porque estou ali e a mais velha do grupo, Angel, de 63 anos, mal me deixa acabar de falar. Disse-me logo “claro que sim!”, que tinha todo o gosto em contar-nos um pouco sobre si. Pelo menos até que chegasse o seu transporte para o hotel.
Tinha acabado de chegar a Lisboa de comboio, após três dias no Porto, vive em Nova Iorque e estava a visitar algumas cidades europeias com familiares e amigos.
A irmã de Angel vive na Alemanha e combinaram comemorar todos juntos o seu 60.o aniversário em Lisboa, cidade sobre a qual pouco sabia antes desta viagem. “Mas se for como o Porto, então estou rendida.” Aliás, tanto Angel como os outros elementos do grupo não poupam elogios à Invicta, onde passaram três dias: “Adorámos, que cidade espantosa.”
Antes de chegarem a Portugal foram a Dublin, cidade a que deram um “sólido 3” e a Barcelona, de que não gostaram, atribuindo 1, a nota mais baixa. Para o Porto reservaram a melhor avaliação: 5. E maior fosse a escala, mais alta seria a nota. Desconfio que a classificação seria sempre a máxima, tal é o rol de elogios.
“A luz, o rio, as pessoas. A comida. Ah, o peixe”, sublinha, “tudo é espetacular.” Angel ficou tão embevecida com a cidade e com os seus habitantes que faz questão de dizer que nunca se vai esquecer do empregado do Noshi Coffee, um novo café no Porto. “Disse-me que gostava de conhecer Nova Iorque, disse-lhe para ir quando quisesse que ficava connosco. Respondeu-me que não tinha muito tempo, pois era ele que cuidava da avó”, recorda. “Depois disto, nada mais a dizer. Tinha–nos conquistado”, acrescentou.
Para a norte-americana, poucos são tão “hospitaleiros” ou “prestáveis” como os portugueses. Pergunto-lhe sobre Lisboa, quais são as suas expetativas, o que quer ver e onde quer ir. Responde-me que quer comer mais peixe e marisco, e, depois, uma das jovens do grupo refere os pastéis de nata. Eu digo onde, na minha opinião, se continuam a comer os melhores e faço o devido aviso sobre as filas à porta.
Angel diz ainda que o que mais gosta numa cidade é da história. E, isso, Lisboa tem para dar e vender. Despedimo–nos, enquanto o meu lado mais competitivo só me faz pensar: “Espero que Lisboa também seja um 5.”