Orgasmo. “Muitos procuram a minha ajuda porque não conhecem o seu corpo”

Um terço das mulheres nunca teve um orgasmo, o que é resultado de falta de comunicação e conhecimento sobre o tema, que ainda é um tabu na sociedade

Será que os orgasmos são desvalorizados por serem apenas uma sensação que nem todas as mulheres experienciam? Ou será porque o tema sexualidade ainda é um tabu na nossa sociedade? Certo é que o orgasmo tem o seu dia (31 de julho) consagrado e hoje muito se irá falar dele. Quem se apaixonou pelo tema foi a educadora sexual Aline Castelo Branco, que falou com o i.

Aline iniciou-se como jornalista no Brasil, onde começou por fazer um programa televisivo sobre sexualidade. Desde então interessou-se por esta área e decidiu vir para Portugal tirar um mestrado em Educação Sexual. Acabou por ficar a morar em Lisboa, para realizar alguns estudos na área. Também já escreveu dois livros, tem um canal no YouTube onde dá dicas sobre este tema e criou um programa online para ensinar os homens como funciona o corpo da mulher e como podem ajudá-la a atingir o clímax.

Já por terras lusitanas, Aline decidiu que estava na hora de mudar a mentalidade dos portugueses. “Vim para tirar um mestrado e também para ajudar o povo português a abrir a sua mentalidade”, explicou a especialista.
No Brasil, a mentalidade é muito mais aberta e liberal, e por isso é que no nosso país este tema ainda é visto como um tabu, como algo errado e proibido que não deve ser discutido com ninguém, nem mesmo com o parceiro. 

Tudo isto está relacionado com a cultura, os costumes e os valores portugueses porque, apesar de vivermos num meio onde existe vasta informação e onde está tudo ao alcance de um clique, as pessoas ainda têm uma mentalidade muito fechada, devido à ligação com a religião e com o conservadorismo, que estão ainda muito enraizados na cultura portuguesa. Esta escassez de comunicação leva a que haja uma falta de conhecimento por parte das pessoas sobre o próprio corpo e ainda a que sintam vergonha de falar com o seu parceiro para que ele estimule os pontos certos.

 O povo português “é um povo muito conservador”, diz a especialista, acrescentando que, apesar de adotarem esta posição reservada, os portugueses, no seu íntimo, gostam de experimentar coisas novas e diferentes. 
No entanto, o problema é que “em Portugal não se fala sobre sexualidade e apenas se aprende o básico”, sublinhou Aline, acrescentando que não existe nenhum local que fale sobre a sexualidade e que isso é o principal motivo pelo qual “os portugueses estão mal informados” sobre a mesma.

Muitos homens não sabem o que devem fazer para que a sua parceira chegue ao orgasmo porque não conhecem o seu corpo nem o da parceira. “Prova disso é o facto de 86% das mulheres lésbicas conseguirem alcançar orgasmos quando têm intimidade sexual, contra apenas 65% das mulheres heterossexuais”, elucidou a educadora, acrescentando que as mulheres portuguesas se queixam de que os homens não são atenciosos, não se preocupam com os preliminares e que, por isso ,não conseguem atingir o orgasmo.
Um terço das mulheres nunca experienciaram a sensação de um orgasmo, sendo as principais razões a vergonha de falar com o parceiro para que estimule os pontos certos e a falta de conhecimento do próprio corpo.

A importância da educação em casa

“Tudo parte da educação em casa”, explicou a brasileira. Os pais devem falar com os filhos sobre a sexualidade porque é sempre bom ter liberdade para se falar sobre esse assunto em casa, visto que o diálogo aberto é a base para uma boa vida íntima. “Uma criança, quando tem dois ou três anos, começa a descobrir-se sexualmente, isto é, começa a tocar no seu pénis, e os pais normalmente repreendem-no com uma lapada na mão”, diz Aline Castelo Branco, referindo que essa atitude não é a mais correta porque vai levar à inibição da criança de, no futuro, se ir conhecendo aos poucos. O mais correto em casa é falar com o filho, quando ele chegar à idade de entender, acerca da sexualidade e estar disponível para responder a qualquer questão que ele tenha, para que fique esclarecido e entenda tudo sobre o que se passa consigo e com o seu corpo.

Enquanto estava a tirar o mestrado, Aline fez um estudo com mais de 100 mulheres e percebeu que existiam muitas queixas quanto ao facto de não chegarem ao orgasmo. Na pesquisa, descobriu que cerca de 43% dos homens não gostam de preliminares, momento em que as mulheres conseguem chegar perto do clímax.
Por isso, decidiu criar algumas maneiras de ajudar os homens a entender como podem satisfazer sexualmente as suas parceiras. 

Uma dessas ajudas é o seu canal do YouTube, onde os seus vídeos já contam com mais de seis milhões de visualizações. Nos vídeos, a especialista dá dicas para melhorar a vida sexual e ainda exemplifica algumas das coisas com objetos. O seu vídeo mais visto conta com 1 238 017 visualizações.

O prazer está todo na mão Aline fala do problema da ejaculação precoce dos homens e dá dicas para ultrapassar esse problema, explicando que a masturbação masculina antes do ato sexual pode ser uma forma de combater a ejaculação precoce. A estudiosa, de uma forma muito natural, chega a falar dos problemas por que passou quando iniciou a sua vida sexual. De patinho feio passou a mulher confiançuda e deixou de permitir que os seus namorados se satisfizessem primeiro e não se preocupassem com a sua realização sexual. Aline pegou no seu exemplo para demonstrar às mulheres que não devem ter vergonha de dizer aos seus namorados ou maridos que não são felizes sexualmente porque estes não conseguem levá-las ao orgasmo.

A educadora sexual confessa que as pessoas, normalmente, aderem muito bem aos seus vídeos e colocam vários tipos de questões, expondo as suas dúvidas. Geralmente, as questões mais colocadas são as relacionadas com o próprio corpo. “Muitos procuram a minha ajuda porque não conhecem o seu corpo”, rematou.