Numa fugaz aparição na televisão, disse uma coisa óbvia: «Temo pela sustentabilidade do negócio bancário, num horizonte de dez anos». Que fui eu dizer…! Fui logo apelidado de catastrofista, e um sindicalista amigo perguntou-me, mesmo, se estou a advogar o desemprego dos bancários. Entre nós é assim: prefere-se a tragédia à prevenção.
Quando se vê o BCE a fazer tudo para que não existam mais de 7 ou 8 grandes bancos sujeitos à supervisão global, há razões para temer pelo futuro dos bancos portugueses, que não podem aspirar a integrar o clube dos majors.
Sobreviverão os bancos especializados e bancos universais sem dimensão que os qualifique como ‘sistémicos’. Entre gigantes e anões, não estará a virtude mas o vazio – porque (é fatal) a ‘reorganização’ vai ser paga pelos bancos de média dimensão, sujeitos a pressões de toda a ordem, até ficarem reduzidos à escala de ‘não sistémicos’. Ou seja, os que podem desaparecer do mapa, sem que ninguém se incomode com isso.
Como se não bastasse, a tecnologia está a acelerar a transformação do negócio financeiro.
As primeiras vítimas serão os cartões de pagamento, que só não desapareceram já porque custa sempre tomar a decisão de ‘deitar tudo pela borda fora’: por um lado, tudo o que é possível fazer com um cartão de crédito pode ser feito de forma mais fácil, rápida e segura com um smartphone; por outro, o número de pessoas que trazem no bolso um telemóvel excede, em muito, o dos titulares de uma conta bancária.
A nova realidade já é visível em África, em regiões onde nunca houve agências, nem haverá, porque só seriam úteis como ‘estações de aconselhamento’… que não geram receita direta.
O quadro configura uma sentença de morte para os bancos de média dimensão? Não teria de ser assim, mas quem manda na Europa não está a facilitar as coisas. Num momento em que se esperariam incentivos à ‘reinvenção da banca’, para a tornar mais amiga dos consumidores, os reguladores estão a converter os bancos em centrais de burocracia, que fazem disparar os custos e empurram para comissões extravagantes, lançadas para custear operativas cada vez mais pesadas.
No cenário que está montado, os bancos médios vão ter de viver no fio da navalha: expostos à concorrência das operadoras de telecomunicações e das plataformas de vendas virtuais − por onde já passa mais de metade do dinheiro em circulação − e forçados a encerrar os balcões que, por boas e más razões, abriram nos últimos quarenta anos.
A curto prazo, ficarão com os depósitos, que perderam o interesse de outrora; com o crédito, que carrega os riscos das imparidades; mas sem os milhões que estão nas plataformas tecnológicas a custo zero, e que estas já estão a usar na oferta de serviços financeiros. Reduzidos à escala de ‘não sistémicos’, os bancos ficarão pequenos demais para beneficiar de economias de escala, e pesados demais para oferecer um serviço ágil e barato.
O que é espantoso é que, ao mesmo tempo, os Estados continuem a investir somas astronómicas no resgate de bancos que estão condenados à morte.