O novo e beligerante diretor de comunicações da CasaBranca foi ontem afastado apenas dez dias depois de ter sido nomeado por Donald Trump e de ele próprio ter forçado duas importantes demissões na equipa do presidente americano. A notícia de que Anthony Scaramucci foi afastado do cargo de diretor de comunicações foi publicada ontem pelo diário “New York Times”, e, à hora de fecho desta edição, não era claro se o ex-financeiro de Wall Street estava mesmo fora da Casa Branca, ou se continuaria noutras funções. O que parecia comprovar-se, porém, era que a demissão de Scaramucci foi uma exigência do novo chefe de gabinete de Trump (o ex-general John Kelly), a quem o ex-diretor de comunicações se gabou recentemente de poder desobedecer.
A demissão de Scaramucci é um desfecho algo irónico e inesperado numa Casa Branca que tenta acabar com o caos e chegar à estabilidade que, em seis meses, nunca conseguiu. Scaramucci, afinal de contas, chegou apenas há dez dias a convite de Donald Trump, que, segundo a novela interna da sua administração que não cessa de gotejar para a imprensa, há muito pretendia afastar o então principal porta-voz do governo, Sean Spicer, e o seu chefe de gabinete, Reince Priebus – uma das posições mais importantes de qualquer governo americano e que caiu nas mãos de Priebus, um homem do sistema, para acalmar os republicanos.
A chegada de Scaramucci fez com que ambos os indesejados se retirassem velozmente. Sean Spicer demitiu-se no dia em que aquele foi empossado, protestando contra a nomeação. Priebus durou mais alguns dias – oito – e demitiu-se na sexta-feira, um dia depois de Scaramucci (ou Mooch, como é conhecido pelos amigos e por Trump) ter dado uma entrevista e, nela, uma longa tirada de insultos, palavrões e ameaças à “New Yorker”, antecipando, entre outras coisas, a demissão “para muito breve” de Priebus.
A maior ironia de ontem era a de que foi Sean Spicer, ainda de saída, quem comunicou ao final da tarde a demissão do seu ex-novo patrão. No comunicado, o porta-voz demissionário pareceu confirmar as notícias de que a saída do diretor de comunicações foi uma exigência de John Kelly, a quem o presidente, segundo o “Washington Post”, deu rédea livre para comandar os assuntos internos da Casa Branca com a disciplina própria de um ex-general (que Kelly é). Nas palavras de Spicer: “Osenhor Scaramucci sentiu que o melhor que havia a fazer era dar um começo limpo ao chefe de gabinete John Kelly e garantir que ele é capaz de construir a sua própria equipa. Desejamos-lhe o melhor.”
Tiro no pé? A partida de Scaramucci vai ser reconstruída nos próximos dias. A julgar pelos relatos que ontem saíam para a imprensa, o financeiro nova-iorquino condenou-se a si próprio assim que lançou borda fora Spicer e Priebus. A sua entrevista à “New Yorker”, na qual Scaramucci, por exemplo, diz não querer “chupar o seu próprio…” como o conselheiro Steve Bannon, até pode ter cumprido um primeiro objetivo de demitir Priebus.O seu sucessor, no entanto, garantiu que Scaramucci não faria novamente o mesmo.
O “Washington Post” escrevia ontem que John F. Kelly passou o fim de semana a queixar-se da entrevista de Scaramucci – publicada quinta-feira –, a qual, avança o jornal, envergonhava Trump e a Casa Branca. O general tomou posse na manhã de ontem. Scaramucci foi-se embora horas depois.