A taxa de desemprego em Portugal está abaixo da média da zona euro pela primeira vez desde 2006. O Eurostat revelou que entre os países que partilham a moeda única, o desemprego baixou para os 9,1% em junho – o valor mais baixo desde fevereiro de 2009 – e, em Portugal, de 9,2% para os 9%. Desde fevereiro de 2006 que o número não era tão reduzido. Naquele mês foi de 8,8% na zona euro e 8,6% em Portugal.
A diminuição do desemprego é uma constante desde abril de 2013 – mês em que a taxa atingiu 17,8% – e, segundo afirma Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros ao i, “decorre, essencialmente, do crescimento económico e da confiança de que a economia continuará a crescer”.
Também João Duque aponta que “estamos em ciclo de crescimento das economias que compram os nossos produtos”. O professor do ISEG lembra que “a Europa está a crescer” e argumenta que “se a Europa estiver a crescer, uma vez que a Europa é o nosso principal mercado de exportação, é normal que as empresas portuguesas tenham mais oportunidade para exportar”.
No entanto, alerta João Cerejeira, “o crescimento do emprego em Portugal ainda é um pouco resultado da conjuntura económica” e “é de esperar que o desemprego estrutural vá estabilizar a níveis superiores de antes da crise de 2008”. Segundo o professor da Universidade do Minho, “apesar de um crescimento do PIB que é razoável” este “está ainda está abaixo dos níveis dos anos de 1990”. Ainda assim, defende, “Portugal tem tido uma capacidade de gerar novos empregos que é bastante elevada”.
Segundo Filipe Garcia, “a este propósito, é relevante destacar o aumento considerável do turismo que cria direta e indiretamente uma grande quantidade de empregos por se tratar de serviços e, por isso, um setor relativamente intensivo em termos de mão-de-obra”.
Na opinião de João Duque Portugal está a aproveitar uma “boa conjuntura” e “há uma coisa que pode ajudar Portugal na manutenção de atração de turistas, que foi a venda de muitos apartamentos e propriedades a estrangeiros e isso tende a ancorar essas pessoas e essas famílias a Portugal”.
Para além do turismo, a construção, reflexo da melhoria do mercado imobiliário, e o aumento da concessão de crédito são outras atividades económicas que têm gerado emprego.
Situação laboral
O facto de a taxa de desemprego estar abaixo da média dos países que partilham a moeda única pela primeira vez em 17 anos é, na opinião de João Cerejeira, “algo que é positivo frisar”, uma vez que em “termos macro temos tendência a olhar mais para a taxa de desemprego do que para a de emprego e desse ponto de vista, até como sinal para as agências de rating” poderá ser importante.
No entanto, acrescenta o economista, “é preciso salientar que a taxa de emprego está bastante abaixo dos níveis anteriores à crise. Houve muito emprego que se perdeu”.
Já Filipe Garcia considera que”ter uma taxa de desemprego abaixo da média da zona euro é melhor do que ter uma taxa acima da média, mas diz pouco sobre a situação laboral dos portugueses”. Isto porque, sustenta, “cada mercado laboral tem a sua História” e há “países como a Espanha (17.2%) e Grécia (23.3%) que fazem subir bastante a média”.
Por seu lado, João Duque aponta que “as taxas de desemprego são muito variáveis” devido a “fatores como a fuga de jovens para o estrangeiro, que continua a existir” ou a dinâmica demográfica. “Quando há mais gente a ir para a aposentação do que na zona de emprego, a população ativa decresce e o desemprego decresce só pelo fato dos desempregados passarem a reformados”, resume o professor de Economia.
Salário Mínimo Nacional
Uma das discussões políticas sobre o desemprego tem a ver com o salário mínimo nacional (SMN). De acordo com o primeiro-ministro, António Costa, “o aumento do salário mínimo não está a diminuir a criação de emprego” mas para João Duque ainda “é cedo para fazer contas” uma vez que é preciso aferir se o aumento do SMN “tem impacto na produtividade”. Se essa produtividade “tem ou não impacto na competitividade da economia ainda tem de se ver”, acrescenta.
Na opinião de João Cerejeira, há elementos que poderão explicar a afirmação do chefe do governo. Com a “descida do IVA da restauração houve um aumento da margem que compensou o aumento do salário mínimo” e “os setores exportadores, como o têxtil e o calçado, que têm uma percentagem grande de trabalhadores com o salário mínimo nacional, também estão a beneficiar de um aumento das exportações muito significativo”. Assim, resume o professor da Universidade do Minho, “houve aqui uma série de elementos de conjuntura que podem ter compensado esse aumento de custo e não ter havido um aumento do desemprego por essa via”.
Penalização
“A existência” do salário mínimo e a sua subida recente “até pode ter eventualmente outros méritos que não me cabe discutir, mas por si só diminui a quantidade de empregos”, afirma Filipe Garcia. Além disso, na sua opinião, “tende a penalizar relativamente os trabalhadores que recebem acima desse limiar, mas que não têm acesso às mesmas vantagens fiscais nem às percentagens de aumentos de quem tem” o SMN.
No entanto, segundo o economista da IMF, “enquanto estivermos numa trajetória de crescimento e sobretudo de aceleração, é de esperar que o nível médio do emprego suba e a taxa de desemprego caia”.