O governo iraniano protesta contra as novas sanções americanas, diz que contrariam o acordo nuclear de 2015, mas garante que o entendimento está a salvo e que o rumo de abertura da sua economia não pode ser travado. “Nunca aceitaremos o isolamento”, lançou ontem o presidente Hassan Rouhani, sem falar especificamente das sanções aprovadas esta semana por Donald Trump, e na cerimónia em que aceitou a bênção do máximo aiatola e supremo líder do Irão, Ali Khamenei.
Rouhani, que se dirigia a muitos dos seus opositores militares e religiosos – ele que é um moderado –, defendeu os méritos do acordo nuclear, ainda encarado em círculos ortodoxos como um sinal de capitulação nacional. As presidenciais que Rouhani venceu em maio demonstraram-no e ontem o líder pediu “unidade e cooperação” a uma plateia onde estava, por exemplo, o seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad, autoritário e impedido de concorrer este ano. “O acordo nuclear é um sinal da boa vontade do Irão no palco internacional”, disse Rouhani, a quem Khamenei pediu uma “economia de resistência”, num aparente aviso contra a abertura.
O triunfo eleitoral de Rouhani fora já obscurecido pela visita do novo presidente americano à Arábia Saudita, onde prometeu uma aliança com o eixo muçulmano sunita que se opõe à ascensão regional iraniana e que por estes dias tenta isolar o Qatar em parte pelos seus negócios com Teerão. Também a tomada de posse de Rouhani, sábado, será toldada pela notícia de novas sanções americanas. O mesmo presidente americano que passou anos a dizer que o acordo nuclear com o Irão é “o pior negócio de sempre” promulgou esta semana novas medidas contra 18 indivíduos e empresas no Irão. A nova Casa Branca já admitiu que o governo de Rouhani está a obedecer à letra do acordo de 2015 e, por enquanto, parece não estar a pensar rasgá-lo, como Trump prometeu na campanha. No entanto, Washington argumenta que o programa balístico iraniano viola o espírito do acordo e é nessa lógica que o Congresso avançou para novas sanções.
O governo iraniano anunciou na quarta-feira que vai apresentar uma queixa sobre as novas sanções ao órgão que gere o acordo e prometeu responder de forma “apropriada e proporcional”. “A nosso ver, o acordo foi violado”, disse o vice-ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, argumentando que as sanções americanas são apenas tentativas para o sabotar. “O principal objetivo da América em relação a estas sanções é destruir o acordo iraniano e nós vamos dar uma resposta muito inteligente”, disse, assegurando que os acordos comerciais recentemente assinados com grandes empresas como a Total demonstram que a Europa não deixará cair o entendimento nuclear.