O acordo de princípio para a construção do novo hospital de Lisboa foi assinado em 2007 pelo ministro da Saúde de José Sócrates, Correia de Campos. O Banco Europeu de Investimento aprovou, em 2010, o pedido português de financiamento até 300 milhões de euros para a construção do hospital, mas com garantias públicas.
O hospital, chamado de Lisboa Oriental, depois de gorada a hipótese de se chamar de Todos-os-Santos, seria construído no modelo de PPP. Foi planeado para receber serviços dos hospitais de São José, Santa Marta, Curry Cabral, Estefânia e Capuchos, e da Maternidade Alfredo da Costa. O concurso foi feito e teve um consórcio vencedor. Os edifícios desses hospitais foram vendidos à Estamo (a imobiliária do Estado).
Entretanto, chegou a troika e eleições legislativas em junho de 2011.
O novo Governo de Passos Coelho, com Paulo Macedo como ministro da Saúde, decidiu manter a ideia da construção de um novo hospital, mas anulou o anterior concurso e ordenou um novo processo.
Porquê? Entre outras razões, porque na proposta do consórcio vencedor havia a «exigência (…) de fiança pelo Estado Português ao BEI», que se tinha chegado à frente com cerca de metade do financiamento da obra. Isso comportava «riscos e problemas», lia-se no despacho de não-adjudicação assinado pelos ministérios das Finanças e da Saúde.
Para além dessa questão, o Governo sublinhava os «riscos relacionados com a insustentabilidade e o caráter desatualizado e com condições menos vantajosas para o Estado», que não correspondiam «aos fins de interesse público subjacentes à constituição da parceria».
Contas feitas, o Governo de Passos Coelho achava que conseguia fazer um melhor negócio para o Estado e para os contribuintes, poupando 166 milhões de euros.
Mas isto era o que achava Passos Coelho, primeiro-ministro. E o que achavam António Costa, presidente da CML, e Manuel Salgado, o seu braço-direito e todo-poderoso vereador do Urbanismo desde 2007?
Em fevereiro de 2014, num debate organizado pela concelhia do PS Lisboa, Costa declarou: «O novo hospital vai ser bem melhor» e criará uma «nova centralidade na zona oriental», permitindo integrar esta zona «na malha urbana da cidade».
Afastando as críticas à localização da obra, disse: «Hoje, o grosso da população está nesta zona oriental». E adiantou que «os hospitais têm de estar junto da rede de estradas, para melhor servirem as populações». «Hoje ninguém instalaria nenhum hospital» na zona da colina de Santana, observou, devido às dificuldades de acesso.
Manuel Salgado, o vereador de Costa e de Medina, também presente na reunião, explicou que passariam para as mãos do município áreas que totalizariam os 36 mil metros quadrados, o que seria um património «descomunal».
Para o vereador, a colina de Santana passaria a ser uma zona habitacional de excelência…
Zona habitacional de excelência, registe-se.