Agora que terminou, com a entrega das listas autárquicas nas abertas secretarias dos competentes tribunais, a luta pela conquista dos melhores ‘ lugares’ nos diferentes órgãos dos municípios e das freguesias, é tempo, neste arranque de Agosto, para certas memórias do nosso passado.
São momentos de descoberta e de redescoberta. Que a disputa, bem interessante, das maravilhas que são as ‘aldeias históricas’ – com o alegre confronto da busca daquelas que serão consideradas sete maravilhas! – ainda mais motivou.
Nunca esqueço a aldeia histórica de Marialva, ali entre a Meda e Trancoso – com o sugestivo e atrativo turismo das Casas do Coro –, e recordo sempre a vitória final de D. Fernando, o Magno, em 1063, na sua emblemática conquista das Beiras.
Ali percebemos bem que importa preservar, divulgar e apoiar o circuito único das ‘aldeias históricas de Portugal’. Ali sentimos também que os municípios envolvidos devem pensar em conjunto e não afirmar-se solitariamente. Ali como em qualquer outro lugar deste nosso Portugal.
Ali, naquelas casas reconstruídas, abraçamos o horizonte ímpar e mastigamos, com verdadeiro prazer conventual, as supremas delícias da nossa singular gastronomia. Como o fazemos num Vidago com fidalguia reconstruído, ou na adega da Quinta do Portal, com o traço único do mestre Siza Vieira.
Em cada um destes atrativos lugares regressamos à nossa infância. Fazemos quase que uma travessia de vida. Com muitos momentos de saudade. Da nossa infância e juventude. E com verdadeiros instantes de lágrimas contidos entre risos abertos. E interiorizando a nossa culpa ou as nossas culpas, recordamos Einstein: «Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós próprios aquilo que somos»!
E a tradição levava-me há quase sessenta anos da Granja a Espinho, da Costa Nova à Figueira da Foz. E num livro, numa relíquia, de Ramalho Ortigão (de 1876) – com o sugestivo título As Praias de Portugal –, regressei nestes dias à infância. Com este ‘guia do banhista e do viajante’ regressei a muitas recordações de verões de carinho e de autenticidade.
E depois de me lembrar que o saudoso Senhor meu Pai me dizia sempre que alguns peixes têm uma espécie de voz – contrariando a frase ‘mudos como peixes’ – parto, com uma saudade imensa, para esses verões do meu passado.
A granja era «uma povoação diamante, uma estação bijou, uma praia de algibeira». Espinho, um sítio de «uma espécie de exaltação patriótica e intransigente». A Figueira «uma impressão semelhante à que se experimenta penetrando nos gerais da Universidade em dia letivo». E a Costa Nova uma necessária descoberta na «ocidental praia lusitana»!
E, desta forma, Ramalho Ortigão, com a sua escrita que nos faz olhar para cada lugar que recordamos, leva-nos neste século à descoberta, bem virgem, das praias da nossa infância e juventude.
E depois das praias vinham as vindimas. E sempre, mas sempre presente, o oratório em que partilhávamos as orações com a bisavó Josefina. Era um salto imenso, de mais de oito horas de viagem, entre Espinho ou Figueira e Valflor. Ali bem perto da Meda. Mas era um salto entre carinhos e afetos, bem disputados, que nunca esquecemos. São os maravilhosos verões da nossa infância e juventude.