N a semana passada fui à Baixa passear com os meus filhos. Comemos um gelado na Rua Augusta e seguimos em direção ao rio, até ao Terreiro do Paço. No regresso, quando me preparava para comprar uma água, já não tinha a carteira. Alguém se achou no direito de ma roubar. Ia com três crianças pequenas pela mão e uma pendurada no marsúpio. Mas essa pessoa não se compadeceu minimamente de mim. Não se perguntou se teríamos forma de regressar a casa sem dinheiro, se por acaso teria nela documentos que me faziam falta naquele ou noutro momento, se poderia precisar de algumas daquelas moedas para comprar água para os miúdos depois de um passeio num dia de muito calor.
Quando me vi sem carteira a irritação foi mais que muita. Caso não voltasse a aparecer, as horas que ia passar na Loja do Cidadão a fazer cartões novos para toda a família, os cartões do banco que teriam de ser cancelados para depois pagar outros novos, a carta de condução, os documentos do carro, dos seguros de saúde, disto, daquilo e do outro… Já para não dizer que é sempre em dias destes que temos a carteira recheada. Tudo nas mãos de um gatuno qualquer!
Encontrei uns polícias e perguntei-lhes o que fazer. Mostraram-se totalmente indiferentes. Para eles, situações destas são normais. «Cancele os cartões e apresente queixa. Tinha documentos pessoais?». A resposta parecia-me óbvia. «Mas eles não vão querer os seus documentos. Os documentos só são importantes para si. Para qualquer outra pessoa não fazem falta». Grande teoria, pensei eu. «Em princípio a carteira ainda vai aparecer, a não ser que a deitem no lixo».
A minha mãe disse-me uma coisa parecida: «Se foi roubada por um profissional a carteira e os cartões ainda vão aparecer». Por um profissional? É esse o ciclo do roubo? «Levo esta carteira, tiro uns trocos, deixo-a num canto qualquer que não esteja demasiado exposto e pode ser que alguma criatura de bem a encontre e faça o favor de a fazer chegar ao dono».
É toda uma corrente que parece funcionar bem. E a verdade é que no dia seguinte já tinha no Facebook uma mensagem do benfeitor que completou a cadeia. Entregou-ma poucas horas depois de o contactar e recusou a recompensa que lhe ofereci. Passado pouco mais de um dia, a carteira já estava pronta para outra. Com as redes sociais, este esquema é tão perfeito que já nem é preciso ir à Polícia. Quantas vidas poderá ter a carteira de uma pessoa desprevenida?
Quando contei a história a amigos e familiares todos me disseram que a Baixa está cheia de carteiristas e que até tinham visto recentemente um programa na televisão sobre isso. E então é assim? Existem carteiristas e pronto? Não há nada a fazer?
Mas, se são tantos, que tal apanhar alguns e puni-los para que depois a notícia seja outra? Quanto a mim, da próxima vez que for à Baixa vou levar uma carteira cheia de notas do Monopólio e moedas de plástico. Veremos se continuam a achar tanta piada à brincadeira.
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