Mathilde. Dos pastéis de Belém ao fado em Alfama

Estava sozinha cheia de malas à volta quando a encontrei. Loira, alta, de olhos claros, a holandesa Mathilde guardava a bagagem dos amigos antes de seguir para Faro, última etapa da passagem por Portugal

Depois vários minutos à procura de um viajante com quem pudesse conversar, encontrei, já dentro da estação, a Mathilde. Uma jovem de 22 anos, que estava a viajar com amigos por várias cidades europeias e, desta vez, a paragem tinha sido em Lisboa.

Mathilde é holandesa, está a tirar um mestrado em Utrecht, e, ao início, mostrou-se desconfiada pela abordagem. Talvez porque, como mais tarde referiu, o povo holandês seja um povo muito mais frio do que o português e, por isso, não se sentir à vontade a falar com estranhos. No entanto, a vergonha rapidamente lhe passa e aceita participar na conversa.

Quando a encontrei estava à espera que os amigos chegassem, pois tinham ido comprar o bilhete de comboio para Faro – a última paragem em Portugal antes de rumarem para outro país.

Para já, a viagem tinha passado apenas por França e, em comparação, Portugal ganha “mil a zero” aos franceses. “Fui ao Palácio da Pena, ao Castelo de São Jorge, a Belém, onde é claro que provei os pastéis, que adorei! De resto passeei pelos sítios turísticos habituais”, afirma a turista holandesa que só tem uma pena nesta viagem: “Gostava de ter ido a Cascais mas já não tivemos tempo”, disse.

De Lisboa, ficou-lhe a ideia, entre sorrisos, de que “os portugueses são muito afáveis. São simpáticos, ajudam-nos com as direções e alguns até metem conversa connosco para saberem de onde somos”. É essa vontade de conhecer dos portugueses que esbarra um pouco na maneira de ser holandesa. “Faz-me alguma confusão, mas no bom sentido. O povo holandês é um povo muito mais frio e muito mais ‘desligado’ das coisas, vocês aqui, pelo que já consegui entender, vivem as coisas muito intensamente.”

Para exemplificar, Mathilde conta uma história: “Fui a uma casa de fado. Sempre ouvi falar muito bem e quis mesmo experimentar. Ficava ali para os lados de Alfama. Achei a música triste, acima de tudo, mas achei que era forte e que tinha um significado especial para vocês, daí estar a dizer isto”.

Mesmo com essa intensidade dos portugueses e essa busca de conversar que lhe causou algum desconforto a princípio, Mathilde não tem dúvidas que não se importava nada de viver em Portugal: “Vocês são muito divertidos e simpáticos. Sabem mesmo divertir-se”.

E vencidas as reticências, lá a conversa se encerrou com a fotografia tirada antes de entrar no comboio e os agradecimentos com um aceno de adeus, antes da última etapa da viagem portuguesa rumo às praias algarvias.